Flávia Ayer
Antigo centro do poder de Minas Gerais e cenário histórico de lutas políticas, a Praça da Liberdade receberá hoje, a partir das 9h, milhares de manifestantes de grupos contrários ao governo de Dilma Rousseff (PT).
Há atos marcados ao longo de todo o dia: às 9h, às 10h e às 15h. Os movimentos se apresentam como apartidários, mas acabaram ganhando a adesão de partidos políticos de oposição. Favoráveis ao afastamento da presidente, alguns grupos pedem que, assim como em 1992, no pedido de impeachment que motivou a renúncia do então presidente Fernando Collor de Mello, manifestantes compareçam com as caras pintadas e vestidos com as cores da bandeira do Brasil.
A Polícia Militar (PM) convocou 15 mil homens para a operação, que usará o mesmo esquema de segurança das copas das Confederações, em 2013, e do Mundo, em 2014. Trata-se do envelopamento, uma espécie de cordão humano cercando e acompanhando manifestantes para evitar porte de armas, pedras e coquetéis molotov.
Apesar da operação montada pela PM, manifestantes esperam promover um ato pacífico e familiar. Nas páginas das redes sociais eles reforçam que a violência não será tolerada e vândalos serão entregues à polícia. O aposentado Geraldo Souza Romano, de 78 anos, representante da Frente União Brasil e do Vem Pra Rua, um dos maiores movimentos, conta que estão sendo preparadas faixas e camisetas. Vendidas a R$ 20, as camisas trazem a inscrição “Eu luto pelo Brasil – Luto Brasil”. “O Brasil está de luto. Somos pela democracia, pela família e contra a corrupção. Queremos recuperar a dignidade e a decência da sociedade brasileira”, explica.
A banda Os Tancredos, grupo que faz alusão ao ex-presidente Tancredo Neves e toca hits dos anos 60 e 70, se apresentará em um trio elétrico. “É para alegrar o povo”, afirma Romano, que tirou do próprio bolso R$ 13 mil para a preparação do ato político e espera doações para recuperar o investimento. Voluntários atuarão para reforçar a segurança. “São umas 150 pessoas que trabalham nessa área e também lutam, que têm um preparo físico melhor”, diz Romano, para quem o PT deveria sair “do governo e do país”. Ontem, seis carros de som circularam na cidade para convocar para o ato. Também houve distribuição de panfletos.
Vergonha O advogado Aristoteles Atheniense está à frente do Grupo Vergonha, que se reunirá às 9h em frente ao coreto da praça com camisa produzida especialmente para o evento.
De acordo com Atheniense, a preocupação do grupo, formado por empresários, estudantes, operários e donas de casa, é “externar a preocupação e a insatisfação com métodos que regem a política”. Eles levarão faixas com as frases “Decência ainda que tardia”, “Já não sou cidadão, virei contribuinte”, entre outras. Para garantir a tranquilidade, eles criaram um regulamento. Entre as orientações estão não se pronunciar em favor de medidas radicais, a exemplo do golpe militar, e se sentar no chão fazendo uso de apitos, em caso de problemas. O documento também traz instruções sobre a forma de carregar as faixas – no máximo, quatro pessoas – e de estimular a solidariedade entre os integrantes.
VAREJO O comércio também aproveitou para lucrar com as manifestações. Uma loja de roupas no Centro de BH produziu uma linha de camisas especial para os protestos. A versão mais simples, vendida a R$ 9,99, leva a estampa da bandeira do Brasil. Outro modelo é voltado para quem quer tirar a presidente do poder e traz, além da bandeira, a frase “Impeachment – Fora Dilma”.
A vendedora Ângela Alzira, de 27, acredita que o governo da Dilma é bom para as mulheres, mas, na hora de anunciar o produto no microfone, ela capricha na crítica. “Dia 15.
O estudante Nicolas Lisandro, de 17, comprou três camisas para toda a família comparecer à manifestação na Praça da Liberdade. Apesar de não ter votado nas últimas eleições, ele quer o fim do governo da petista. “Ela está me estressando. Está tirando o Fies (financiamento estudantil) das faculdades e vou fazer vestibular este ano”, diz. Para frear gastos com o programa, o Ministério da Educação (MEC) fez restrições ao programa que financia alunos em universidades particulares.