Brasília – Em depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o responsável no PT por “efetuar pagamentos de valores devidos aos fornecedores de serviços” na campanha eleitoral de 2002, que o elegeu pela primeira vez à Presidência, era o então tesoureiro da campanha, Delúbio Soares, que ele não citou nominalmente, mas afirmou não saber explicar a sistemática dos pagamentos. Trechos do depoimento, prestado em 9 de dezembro passado, foram publicados pela revista Veja que começou a circular ontem.
O ex-presidente foi ouvido no inquérito aberto pela PF para investigar declarações do operador do mensalão, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo STF e que cumpre pena em presídio de Minas Gerais. Ele havia dito em depoimento sigiloso prestado ao Ministério Público Federal em setembro de 2012 que Lula tinha conhecimento do esquema de repasses do mensalão, revelado em 2005. Disse ainda que Lula e o então ministro da Fazenda Antonio Palocci, em 2004 receberam em audiência no Palácio do Planalto o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta, com quem teriam acertado um empréstimo de US$ 7 milhões ao PT em razão de interesses da companhia telefônica no Brasil. Segundo Valério, parte desse dinheiro, originado de fornecedores da Portugal Telecom em Macau, na China, ajudaria a pagar campanhas eleitorais petistas e deputados da base aliada no Congresso.
Sobre o suposto pagamento da telefônica, Lula respondeu que “não confirma”, segundo a revista. Ao ex-presidente teriam sido feitas 28 perguntas. Na maioria das respostas, Lula repetiu a mesma formulação, de que “enquanto candidato da campanha a presidente da República, não tinha conhecimento da parte financeira da arrecadação de valores para a eleição”. O depoimento de Lula pouco acrescenta à história do mensalão. No auge do escândalo, em 2005, ele já havia se eximido de qualquer responsabilidade sobre o esquema, em entrevista que concedeu em 15 de julho em Paris, na França. Ouvida pela reportagem ontem, a assessoria de imprensa do Instituto Lula informou que o ex-presidente “prestou depoimento normalmente à Polícia Federal”. A assessoria disse “lamentar vazamentos seletivos de informação” que tramita em segredo de Justiça.