Maria Clara Prates
O tsunami político que atinge em cheio o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), provocando manifestações de insatisfação e indignação pelo país, é resultado principalmente da crise econômica, mas tem raízes também nas recentes medidas impopulares, na falta de habilidade na articulação com o Congresso e especialmente na divulgação incessante dos casos de corrupção da Petrobras, maior estatal brasileira.
O cientista político Torquato Gaudêncio lembra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enfrentou terremotos, especialmente em seu primeiro mandato, quando foi revelado o escândalo do mensalão, mas nem de longe na mesma escala da presidente Dilma. A razão? O bom desempenho da economia à época. “A locomotiva que puxa o trem do social é a economia. Portanto, em tempos de inflação baixa e crescimento do emprego, as crises políticas tendem a se amenizar”, afirma Gaudêncio.
Ruim Fazendo coro com o colega, o professor Fábio Wanderley Reis, doutor pela Universidade de Harvard (EUA) e professor emérito da Universidade Federal de Minas, explica que a atual crise do governo petista tem motivações distintas. “A primeira é objetiva: que é o atual quadro econômico, com aumento da inflação e do desemprego, afetando diretamente o bolso da população. Soma-se a isso uma motivação subjetiva, que é gerada por uma denúncia intensa de corrupção, em razão dos desvios de recursos da Petrobras”, explica. Para o cientista político, o atual quadro político “é singularmente ruim”. Fábio Wanderley observa que neste caldeirão está adicionado ainda outro ingrediente: a grande frustração dos eleitores provocada pela derrota da oposição, depois de uma enorme expectativa de que o PSDB iria interromper uma sequência de 16 anos do governo petista.
Torquato Gaudêncio diz que existe hoje no país uma “crise de descrença”, ou seja, uma crise econômica com uma política se desenrolando em paralelo. “Os escândalos em série foram atribuídos, por parte da população, ao PT, criando assim uma rejeição ao que chamam de “petismo”, “lulismo” e, agora, “dilmismo”.
A presidente Dilma diz que vê com “tranquilidade” as manifestações de insatisfação que tiveram início no domingo passado e se fortaleceram durante a semana, mas a verdade é que nunca antes na história do PT no poder houve um movimento tão forte de insatisfação da população, e isso vem tirando as noites de sono dos governistas. A ponto de obrigar Dilma a recuar numa das principais medidas do arrocho fiscal: a não correção da tabela do Imposto de Renda. Acuada e seriamente ameaçada de sofrer mais derrotas no Congresso, ela permitiu um escalonamento do reajuste da tabela. Para sobreviver no poder pelos próximos quatro anos, cientistas políticos entendem que ela vai ter de fazer outras correções no governo, muito além da tabela do IR.