Protestos em BH contra governo Dilma e PT lotam Praça da Liberdade e ruas da capital

Em tom pacífico, protestos na capital mobilizaram milhares de pessoas de todas as idades

Juliana Cipriani Gustavo Werneck
Críticas à presidente Dilma Rousseff e ao PT conduziram a manifestação na capital, que teve Hino Nacional, buzinaço e panelaço na Região Centro-Sul - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

A insatisfação com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e com a corrupção no país ganhou voz e espaço ontem na Praça da Liberdade e em algumas das principais ruas e avenidas de Belo Horizonte. Cerca de 24 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar (PM), ocuparam e coloriram de verde e amarelo pontos tradicionais da cidade. Eles entoaram coros de “fora Dilma” durante toda a manhã e início da tarde. Anunciado logo cedo no carro de som como o “segundo grito da independência do Brasil” e uma “manifestação da família brasileira pela democracia”, o ato ocorreu pacificamente, apesar do grande número de pessoas, que, depois, seguiram pelas ruas da Savassi e do Centro.

Os novos caras-pintadas são de todas as idades e começaram a chegar pouco antes das 9h à Praça da Liberdade, que foi o maior ponto de concentração. Cartazes de todos os tipos pediam o afastamento da presidente Dilma Rousseff. No carro de som, contratado pelos movimentos Vem pra Rua, Patriotas e Frente União Brasil, os animadores puxavam gritos contra o PT. “Um dois três, quatro, cinco mil. Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”, provocavam.
Os locutores diziam que Dilma tingiu o país de vermelho, e pediam a todos para chamar mais gente para ir às ruas para devolver a cor original ao país. Eles tocaram uma música-tema do movimento Fora Dilma, além de canções como a que virou o hino da Copa das Confederações e Que país é esse?, do Legião Urbana.

“Essa é a hora de mostrar nossa insatisfação com os desmandos do país”, disse o empresário Luiz Vargas, de 60 anos, líder da Frente União Brasil. A turma dele inclui desde pessoas que querem somente mudanças políticas até os que pedem o impeachment ou intervenção militar. Apesar de ter um caminhão de som organizando alguns momentos, a manifestação ficou por conta de grupos diversos. Um deles carregou, em meio a uma grande vaia, um caixão preto fazendo o enterro simbólico do PT. Os manifestantes também cantaram o Hino Nacional.

Várias famílias acompanharam o protesto. O comerciante Petrônio Baeta Milagres, de 56, que foi com a namorada, Cristina Nogueira, de 56, funcionária pública, vestiu o cachorro Set com a bandeira do Brasil. “Tem que tirar a Dilma. Se ficar mais quatro anos, quando terminar não vai ter nada”, disse. A estudante de medicina Marina Thompson, de 32, levou no rosto um nariz de palhaço, e em uma faixa sua insatisfação com a mudança de regras no Fies. Ela diz que 95% de sua turma depende do subsídio para pagar os R$ 6 mil de mensalidade. Ela protestou com cerca de 20 amigos e parentes.

FANTASIAS
Quem também juntou um grupo foi o empresário Fernando Gontijo, de 50, que se vestiu de bobo da corte. “Estou insatisfeito com o que fazem com o Brasil.
Vão colocar o Dias Toffoli para julgar o petrolão”, afirmou. Vestido de garçom com um avental verde-amarelo, o empresário de eventos Nelson Cunha, acompanhado da mulher, Jussara, que atua no setor de alimentos, mandou seu recado a Dilma. “Sua batata está assando. Quem paga a conta no Brasil é a classe média, nós pagamos os impostos. Hoje está começando um movimento que vai crescer sem proporções.”

Não houve bandeiras de partidos, mas políticos como o deputado estadual João Leite (PSDB) passaram por lá. O tucano foi por conta própria com a família, para “se juntar à população”. Também apareceu por lá Ana Paola Frade Pimenta da Veiga, mulher do candidato derrotado ao governo de Minas Pimenta da Veiga (PSDB).

Durante o dia, a cidade foi tomando as cores da bandeira do Brasil. Bares, restaurantes e shoppings ficaram cheios de gente vestida de verde e amarelo. Na Região Centro-Sul, houve também buzinaços e carros tocando o Hino Nacional. À tarde, cerca de 2 mil manifestantes se reuniram na Praça da Liberdade e seguiram até a Praça Sete.
Eles também carregavam um caixão, em alusão ao enterro do governo de Dilma. No Centro de BH, se encontraram com grupo que já se concentrava lá e permaneceram até o fim da tarde. No início da noite, logo após a dispersão do protesto, dois manifestantes foram presos em flagrante por quebrar o vidro de um ônibus da linha 9503 (Taquaril), na Praça Sete.

O MURO DAS REIVINDICAÇÕES As grades do Palácio da Liberdade, antiga sede do governo estadual, receberam ontem cartazes e faixas usadas durante as manifestações ao longo do dia. O local virou atração e pano de fundo para fotos e selfies. As mensagens eram as mais variadas: “Fora PT e sua quadrilha”, “Só porque protesto não quer dizer que sou golpista”, “Lula, o chefão da roubalheira”, “Reforma política”, “Contra correção da tabela do Imposto de Renda”, “Não aguento mais, basta de roubalheira”. O analista de sistema Brander Weten, de 26, levou um cartaz que dizia “Perdi a confiança no Brasil”. “O governo não me ajuda em nada. Tudo o que faço é privado”, reclama. (Colaboraram Flávia Ayer, Marcelo da Fonseca e Landercy Hemerson).