Uns gritavam “fora Dilma”, outros pediam o fim da corrupção e havia até defensores da volta dos militares ao poder. Mas tinha também protesto contra o desemprego e a alta dos impostos, a favor de reformas políticas, clamor pelo fim da impunidade e gente ansiosa para ver “democracia com mão de ferro”. A Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, transformou-se, na manhã e tarde desse domingo (15), em gigantesca tribuna popular contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Houve espaço para inúmeros grupos segurarem seus cartazes, bradar palavras de ordem, vestir camisas com frases criativas – e muitas vezes ofensivas –, enfim, fazer do domingo sem chuva um palco de críticas e reivindicações.
“Estou desempregada depois de trabalhar 10 anos numa empresa de moda. Estou aqui pois precisamos de respeito e dignidade”, afirmou Patrícia Reis, moradora do Bairro Estoril, na Região Oeste, ao lado da amiga Marilene Dumont, empresária. As duas vestiam camisetas de paetês com a bandeira do Brasil. “Comprei para a Copa, fui votar com ela e fiz questão de vesti-la hoje”, disse Patrícia, mostrando indignação ao batucar em duas panelas.
Um grupo de 270 pessoas, trajando camisa com a palavra “Basta” escrita em preto sob a palma da mão suja na mesma cor, chamava a atenção na Alameda Travessia. “Somos a favor de mudanças, contra a corrupção na Petrobras”, disse o engenheiro Tadeu Arouca, morador do Condomínio Vila del Rey.
“As instituições públicas estão falidas, há corporativismo excessivo. É preciso acabar com o foro privilegiado, esse estado de coisas no Brasil”, criticou o administrador Alberto Lansky num grupo com as amigas Júnia Lanna, dona de casa, e Laura Werneck, estudante de química. “Desde 2011, comemoramos o Dia do Basta à Corrupção. Mas isso deve ser todo dia”, afirmou o administrador.
Quem também quer dar um basta e tirar o PT dos Correios são os cerca de 140 integrantes da associação dos profissionais da categoria (Adcap). Eles foram à praça carregando o cartaz “SOS Postalis” e denunciaram suposto rombo de R$ 5,6 bilhões no fundo de pensão, que, segundo dizem, vai lhes obrigar a pagar mais 15 anos de contribuições. “Correios é a Petrobras em miniatura”, afirmou o presidente nacional da Adcap, Luiz Alberto Barreto.
Já em frente ao chamado Prédio Verde, a ser ocupado ainda este ano pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), quatro jovens transportavam uma bandeira de 16 metros quadrados com o rosto da presidente Dilma e a frase Impeachment já. Mobilize sua cidade. Um dos rapazes da “turma de amigos” não quis dizer o nome, limitando-se a informar que mora no Bairro Fernão Dias, na Região Nordeste da capital. “Por que queremos tirar a presidente? Ah... pela corrupção no país, né?” Não muito longe, integrantes de um grupo com a camisa “A culpa não é minha.
MILITARES Perto da alameda, um cartaz pedia: “Senhores generais, 31 de março está próximo. Vamos repetir 1964. Democracia com mão de ferro. Direito humanos para humanos direitos.” Os responsáveis formavam um grupo de camisas pretas da Loja Maçônica Águia de Haia, de BH. O corretor de seguros Eudes Otaviano estava com a mulher, Regina, e o neto Lucas, de 11 anos, e disse que o cartaz não era exatamente a favor do regime militar, mas um alerta: “Se os generais não tomarem providências, a coisa vai ficar feia”, disse. Mas o representante comercial Adélzio Hempfling se mostrou favorável ao retorno e ressaltou que “a impunidade acaba com o Brasil”. E mais: “Antes a gente podia andar tranquilo nas ruas, hoje não pode mais”.
Rostos pintados também deram as caras na multidão. Acompanhadas dos pais, as gêmeas Eduarda e Estafane Leite, de 14 anos, e a amiga Alice Braga, de 15, residentes em Contagem, na Grande BH.