Enquanto oposição se anima com protestos, base tem problemas no Legislativo

Para os oposicionistas, se o Planalto não dialogar, a caminhada rumo ao impeachment será inevitável. Já os aliados reforçaram a necessidade da reforma política

Naira Trindade
- Foto: Carlos Silva/EM/D.A Press

Após assistir à insatisfação de uma multidão que saiu às ruas para se manifestar contra o governo e atos de corrupção, parlamentares da base aliada e da oposição tiveram diagnósticos completamente antagônicos sobre os desdobramentos dos protestos. Para os oposicionistas, se o Planalto não souber fazer a leitura correta dos protestos, a caminhada rumo ao impeachment será inevitável. Já os aliados reforçaram a necessidade da reforma política, mesmo argumento apresentado pelos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), em entrevista coletiva no início da noite de ontem.

A única concordância entre os adversários foi a surpresa com o tamanho das manifestações de rua. “Foi a fotografia da indignação, a sinalização da população. E, se o governo não souber dar respostas com atitudes, e não apenas palavras, será inevitável o debate sobre o impeachment”, avaliou o líder da oposição no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR). “O Congresso precisa agora interpretar o sentimento da população, pois está muito claro que não aguenta mais o que está aí”, complementou o ex-líder do PSDB na Câmara deputado Antônio Imbassahy (BA), que confirmou um encontro da bancada nesta semana para avaliar os desdobramentos dos protestos.

De saída do PT, a senadora Marta Suplicy (SP) mais uma vez atacou a presidente Dilma Rousseff e defendeu o ato pacífico de ontem. “Os protestos foram contra os equívocos e a inércia de um governo que se tem mostrado incapaz de dar respostas a uma sucessão de crises. Que saibam compreender a mensagem das ruas”, alfinetou a senadora paulista, que se diz abandonada pela legenda.
Especula-se que ela migrará para o PSB para ser candidata à prefeitura de São Paulo em 2016.

Reforma política


Em São Paulo, ao participar do protesto na Avenida Paulista, o presidente nacional do PPS, Paulo Freire, afirmou que “as ruas precisam decidir o que fazer e não mais se restringir às manifestações contra o governo”. Em Curitiba, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), que também participou dos protestos, ressaltou que “só com o povo nas ruas, demonstrando sua indignação, poderemos vencê-la; a população fez a sua parte e temos esse movimento vitorioso”.

Já os governistas vão investir na votação da reforma política para tentar dar uma resposta rápida às cobranças da sociedade. Válvula de escape da base, a proposta que revê a legislação eleitoral se torna um dos principais alvos no Congresso. No caldeirão de medidas que devem vir à tona agora, o governo terá de lidar também com as investigações da CPI da Petrobras, que podem sangrar mais o governo da presidente Dilma Rousseff, já prejudicado pela Operação Lava-Jato e pela lista dos denunciados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Líder do PT na Câmara, o deputado Sibá Machado (AC) convocou a bancada petista para avaliar juntos a repercussão das manifestações e tentar encontrar medidas que diminuam o desgaste do governo. “Foi uma manifestação ordeira e o diálogo agora tem de ser travado. O Congresso tem de votar medidas para destravar a economia e garantir o crescimento do país”, analisou Machado. Presidente nacional do PT, Rui Falcão foi além ao afirmar que pretende que o partido também mude pós-manifestações. “Vamos tomar medidas de ajuste, renová-lo. O Brasil muda, o PT muda com o Brasil.”

Para o cientista político e ex-professor da Universidade de Brasília (UnB) Murilo Aragão, as manifestações enfraqueceram ainda mais o governo e expuseram a necessidade de melhorar a articulação política. “Apesar de a base dizer que o ato somou múltiplas agendas, tudo se catalisa em torno do governo, que sai como o grande derrotado das manifestações”, explicou. “Não existe solução mágica, mas uma coletânea de assuntos que precisam ser melhorados, como recuperar o diálogo; reconhecer que é um governo de coalizão; abrir a possibilidade de conversar com a oposição e reconhecer os erros para buscar o diálogo”, concluiu o cientista político..