PT afrouxou critérios, diz FHC

FHC responsabiliza partido pela corrupção na Petrobras ao rebater presidente da Câmara, para quem governo tucano 'abriu porteira' da corrupção por dispensar estatal da Lei das Licitações

Isabella Souto
Ex-presidente não acredita que Dilma e Lula não soubessem do esquema na Petrobras - Foto: Sérgio Castro/Estadão Conteúdo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu ontem às declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que o governo tucano (1995-2002) teria aberto “a porteira da corrupção na Petrobras” ao dispensar a estatal das limitações impostas pela Lei 8.666, a Lei das Licitações. Em entrevista a um programa de TV na noite de segunda-feira, o peemedebista afirmou que o Decreto 2.745/98, que regulamentou o regime diferenciado simplificado de contratações da Petrobras, teria facilitado a formação de cartel na petrolífera e aberto a “porteira da corrupção”. Em nota divulgada à imprensa, FHC alegou que os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) afrouxaram critérios na estatal e Cunha estaria tentando desviar o foco da corrupção para o passado.

“Não seria concebível que se obrigasse a Petrobras a seguir normas burocráticas, saudáveis embora, mas que poderiam ser dispensadas, uma vez que a própria concorrência no mercado estabeleceria as margens possíveis de variação nos preços dos contratos de compras”, disse o ex-presidente. FHC alegou ainda que o decreto assinado por ele tinha o propósito de dar à Petrobras “maior competitividade frente à concorrência com as gigantes petrolíferas, uma vez aprovada a flexibilização do monopólio estatal”.

Para ele, desviar o foco da corrupção é uma “manobra que não se sustenta”. “Ele está na conduta delituosa de agentes públicos e privados, somado à leniência governamental. Até porque um mero decreto poderia ter sido revogado nos 12 anos de petismo, fosse ele a causa real da corrupção e houvesse vontade no governo para combatê-la”, afirmou o tucano na nota. O ex-presidente aproveitou para atacar o PT. Disse que não imaginava a “frouxidão de critérios” adotados nos governos petistas e a “conivência” com a nomeação de diretores ligados a “esquemas de financiamento partidário”, como os revelados nas investigações que culminaram na Operação Lava-Jato.

Na entrevista na TV, Eduardo Cunha afirmou que na gestão tucana, a Petrobras passou a seguir um regulamento próprio, permitindo a realização de licitações pela modalidade carta-convite, enviadas a empresas cadastradas previamente na Petrobras.
“É claro que é uma desculpa até palatável, pois a Petrobras precisa competir no mercado internacional, mas ao mesmo tempo abriu a porteira para a corrupção, pois o diretor podia escolher quem ele convidava e permitir que as empresas combinassem a quem se beneficiava, as empresas podiam combinar o seu preço”, declarou o presidente da Câmara.

Manifestações

Em entrevista à imprensa, FHC disse não acreditar que o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff não soubessem do esquema de corrupção na Petrobras. “Em português claro: não é crível que o que aconteceu na Petrobras fosse desconhecido por quem estivesse no poder, seja Lula seja Dilma. Não digo que estejam involucrados no assunto, mas não é crível que estivessem alheios. Foram muitos anos com diretores sustentados pelos partidos”, afirmou.

Sobre as manifestações realizadas no domingo em várias cidades brasileiras, que tiveram entre outras bandeiras o repúdio à corrupção na Petrobras, o tucano disse que trata-se de um recado para o PT. O ex-presidente reclamou ainda do silêncio de Lula, depois de ter declarado que exércitos da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) iriam para as ruas defender o governo. “Ele sumiu e agora só a Dilma que é a culpada? Só se lê nos jornais que Lula reclamou da Dilma. Que é isso?”, questionou.

FHC criticou ainda a condução da política econômica pelo governo federal. Argumentou que as falhas em optar por controle de preços de combustíveis, política de campeões nacionais – de priorizar empréstimos do BNDES para algumas companhias – e mesmo as decisões de política energética não podem ser colocadas na conta do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. O tucano repetiu a argumentação que vem sendo feita pelo PSDB e pela oposição de cobrar um mea-culpa do governo petista.

“Quantas vezes não disse que errei por não ter ajustado o câmbio antes de 1998? Tinha mil razões para dizer por que não ajustei, mas não importa. Não se pode fugir da responsabilidade histórica. “ O ex-presidente tucano avaliou ainda que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi nomeado “pelo coração” e que, para o Planalto, se ele deixar o cargo, “a coisa explode”. (Com agências)

Supremo rejeita pedido do PPS

Relator dos processos da Operação Lava-Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki rejeitou ontem o pedido do PPS para que a corte investigue a presidente Dilma Rousseff nos inquéritos sobre desvios na Petrobras. “A petição de agravo regimental é apócrifa”, justificou Zavascki ao rejeitar o pedido feito pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE).
Isso porque a petição não foi assinada pelo deputado e nem por um advogado. Como rejeitou a ação, o ministro do STF não analisou o mérito da petição. Jungmann afirmou que vai recorrer. Mais cedo, os partidos de oposição decidiram reforçar o pedido de investigação da presidente pelo STF feito pelo PPS. Com o pedido rejeitado, eles podem ingressar com nova petição no Supremo.
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