O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse em entrevista exclusiva ao Grupo Estado que o PT, legenda adversária, nasceu "arrogante", com uma proposta "salvacionista", mas com o escândalo do mensalão e as novas evidências de corrupção na Petrobras reveladas pela Operação Lava Jato foi "perdendo a imagem de ser um partido capaz de purificar".
Para fundamentar sua crítica, o tucano voltou às origens. "Não gosto quando o ponto de partida é dizer 'eu sou o bom, eu sou o salvador', porque isso é um mau começo e o PT foi muito arrogante nesse sentido. Porque tem uma ideia autoritária". E continuou: "Eu, como democrata, acredito no 'nós temos que ser capazes', o que implica discordância. O PT não tem essa visão democrática. E para quem tem uma visão salvacionista, ter dois de seus tesoureiros sendo comprometidos em escândalos de corrupção, não é brincadeira."
No decorrer da trajetória, a agremiação petista se tornou "autoritária", segundo o ex-presidente. "O PT tem realmente um resquício de visão hegemônica no sentido autoritário, não no sentido de ter capacidade de influir via ideias e valores, mas no sentido de impor, via organização e poder", declarou.
Ele vê com ressalva as críticas feitas de que a presidente Dilma Rousseff é arrogante e por isso não consegue sustentar seu apoio no Congresso Nacional e com partidos da base aliada. Para ele o problema é outro: "A questão da humildade é equivocada. Tem pessoas que são mais arrogantes que outras, outros que são mais simpáticos ou mais humildes. Não é isso que faz diferença. É muito mais a questão da veracidade e da capacidade de conduzir o processo político. Uns são arrogantes e conduzem, outros são mais simpáticos e conduzem, outros arrogantes e não conduzem. Mas agora ninguém acredita muito quando ela chama para dialogar."
E ironizou: "Mas parece que agora ela está colocando as sandálias de São Francisco. Tomara que sejam só as sandálias e não o franciscanismo do conceito 'é dando que se recebe'".