O ministro da Educação, Cid Gomes, disse que os parlamentares da base do governo que não votam de acordo com a orientação do Planalto devem “largar o osso” e ir para a oposição. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”, afirmou. Gomes é ouvido na Casa nesta quarta-feira para explicar sua declaração de que haveria no Congresso “300 ou 400 achacadores” que se aproveitam da fragilidade do governo.
De acordo com o ministro, se for ver a quantidade de deputados e deputadas que compõem as bancadas partidárias e que participam com ministérios no governo vai “se identificar facilmente que, teoricamente, o governo teria uma grande maioria nesta Casa. É só somar”.
Antes da nova polêmica, o ministro da Educação, Cid Gomes, pediu desculpas por declaração contra a Câmara. Durante sua fala, ele foi várias vezes interrompido pelos deputados que gritavam enquanto ele falava. Diante da reação dos parlamentares, o ministro atacou o presidente da Casa, Eduardo Cunha. Apontando o dedo ele falou: “Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque”.
O ministro argumentou que a declaração de que haveria no Congresso "300 ou 400 achacadores" que se aproveitam da fragilidade do governo não foi sua "opinião pública", mas uma fala "pessoal" a um grupo de estudantes de três universidades paraenses dentro da sala do reitor da Universidade Federal do Pará, depois de ser questionado sobre a falta de recursos para a pasta.
"Se alguém teve acesso a uma gravação não autorizada que não reflete a minha opinião pública que me perdoe. Eu não tenho mais idade. Eu não tenho direito de negar a tantos quanto nesses 20 anos de vida pública. Eu não tenho como negar aquilo que pessoalmente, de maneira reservada, falei no gabinete do reitor", disse. O ministro argumentou que o comentário não foi feito em local público e "não é motivo de proselitismo".
Cid Gomes lembrou que, durante sua trajetória como prefeito e governador sempre teve uma relação pessoal com o parlamento é "respeitosa, construtiva, de quem compreende o papel do legislativo" na gestão e no controle do Estado e do País.
Reação
Logo após a declaração do ministro da Educação, o clima esquentou no Plenário. Vários parlamentares se revezaram em críticas a ele. O líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), disse que Cid Gomes ultrapassou as regras de convivência democrática e perdeu as condições de continuar no cargo. “Vamos cobrar do governo se tolera ou orienta os seus ministros a não respeitar o Parlamento, porque esse Parlamento respeita os seus ministros”, declarou o deputado. Já o líder do Solidariedade, deputado Arthur Oliveira Maia (BA), disse que o depoimento Gomes é o momento “mais constrangedor” que já viveu nos 25 anos de vida pública, se referindo a acusação de “achacadores”.
O líder da Minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), afirmou que a presidente Dilma Rousseff precisa esclarecer sua opinião em relação à base aliada do governo na Câmara, depois da fala do ministro. “Com a palavra, a partir de agora, a presidente da República sobre o que pensa da sua relação com a sua base, que foi acusada pelo ministro da Educação, e com Parlamento brasileiro”, declarou. Araújo questionou a ausência da fala de deputados da base do governo para defender o discurso de Cid Gomes. “Cadê a voz do partido que comanda o País na defesa do ministro da Educação?” Na vida pública, de acordo com o líder da Minoria, não é possível separar o homem da função pública.
Durante visita à Universidade Federal do Pará no mês passado, Cid Gomes teria dado a seguinte declaração: “Tem lá [no Congresso] uns 400 deputados, 300 deputados que, quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”.
Gomes comentou que sempre teve “profundo respeito pelo Legislativo”. A consideração, porém, não quer dizer que “concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos, que mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, têm uma postura de oportunismo”.
Com Agência Câmara