"A reforma ministerial pode vir, como efeito administrativo, mas ela não vai responder aos anseios da população", disse em entrevista gravada nessa quarta-feira, 18, em horário não informado. No mesmo dia, o ministro da Educação, Cid Gomes (PROS), pediu demissão após bater boca com deputados em sessão na Câmara.
No auge do embate entre Cid e a Casa, o PMDB, principal partido da base aliada de Dilma, ameaçou deixar a coalizão governista. A saída do ministro deve antecipar mudanças na equipe do primeiro escalão. O PMDB, por sua vez, quer aumentar o número de ministérios sob seu comando.
Protestos
Ao avaliar as manifestações ocorridas no domingo, 15, Temer disse que um povo desatento ao que acontece pode gerar governo despóticos, centralizados, mesmo que democráticos, e considera os protestos uma espécie de "rebelião" contra a classe política.
"Quando se tem esse tipo de movimento de rua, é preciso ouvir e dialogar muito, ter humildade e isso nós temos", afirmou em entrevista a Roberto D'Avila, na Globo News. Segundo ele, a oposição às vezes é feita pelos movimentos de rua, o que gera uma tensão maior para o governo. "Temos que estar atentos, dar-lhes a importância devida e verificar quais são os equívocos".
Participação no governo
Convidado a participar do chamado núcleo duro do governo, ao lado de ministros de confiança de Dilma, Temer disse que é "natural" ser convocado pela presidente Dilma Rousseff (PT) apenas em momentos de crise. A aproximação é entendida como um gesto do Planalto de se reaproximar com o partido do vice-presidente.
O vice afirmou ter consciência da posição institucional que ocupa, de substituir a presidente quando ela se ausenta do País, e disse ser tratado por Dilma "com uma delicadeza institucional, além de uma delicadeza pessoal".
Ele afirmou que a presidente "tem ouvido muito as pessoas" e negou que tenha dificuldades de lidar com o PT.
Temer afirmou que conversa de vez em quando com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o líder petista e o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso devem ser sempre ouvidos.
Oposição
Questionado se acha possível neste momento um pacto com todas as forças políticas brasileiras, Temer afirmou que não acha "improvável". Ele lembrou que o ex-governador de São Paulo Franco Montoro, de quem foi secretário, dizia que existe um momento eleitoral - em que as partes exageram o discurso - e um momento político-administrativo, em que posição e oposição trabalham juntos pelo país. "Tenho feito esse diálogo com frequência", disse. "A raiva precisa acabar. Não se faz política com o fígado. Em política não se tem inimigo, mas adversário, aquele que adversa, está do outro lado. Não entender isso é comprometer as bases do sistema democrático."
Temer voltou a dizer que um impeachment da presidente é "impensável" neste momento porque nenhuma atitude de Dilma se enquadra nas possibilidades para impedimento. Além da falta de base legal, o vice alertou para o risco de se criar uma "crise institucional" que não é boa para o País.
Lava-Jato
Questionado sobre o efeito das denúncias de corrupção sobre as manifestações, Temer afirmou que "grave seria se houvesse corrupção e houvesse tentativa de jogá-la para baixo do tapete". Segundo o vice-presidente, os órgãos responsáveis pela investigação cumprem suas funções. "Isso é que depura para que lá para frente não tenhamos corrupção nenhuma", disse.
Ele descartou a possibilidade de perseguição de parlamentares pela Procuradoria-Geral da República - como sugerido por seus correligionários Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL) - mas afirmou que pode haver equívocos na interpretação dos indícios.
Temer ressaltou contudo, que o processo contra os políticos ainda está em fase de investigação e não denúncia, que já seria um "fato mais grave".
Fundo Partidário
Temer minimizou a decisão do Congresso de triplicar as verbas para o Fundo Partidário, fonte de custeio dos partidos políticos, mesmo num ano de ajuste fiscal. "A ideia do partido é ser um canal de comunicação do povo com o poder.