Que o petista José Dirceu é um homem de várias faces – de guerrilheiro a deputado, de poderoso ministro do governo Lula a empresário bem-sucedido e, recentemente, presidiário –, todos sabem. Uma versatilidade que ele levou também para sua empresa JD Assessoria e Consultoria, agora investigada na Operação Lava-Jato por suspeita de lavagem de dinheiro desviado da Petrobras por meio de um grupo de empreiteiras. Além de prestar consultoria a pelo menos seis delas, que, segundo o Ministério Público, alimentaram o esquema de pagamento de propina na estatal, a JD também foi contratada por empresas dos mais diversos ramos: imobiliário, cultural, cervejaria, laticínio, marketing, editorial, advocatício, elétrico, digital, alimentício, vidraçaria, telecomunicações e automobilística, no período de 2006 a 2013, de acordo com levantamento da Receita Federal ao juiz Sérgio Moro, que preside as investigações da operação.
As consultorias renderam à JD – fundada depois que José Dirceu deixou o governo e foi cassado pelo Congresso – nos últimos sete anos R$ 29,25 milhões, sendo que somente as empreiteiras OAS, Engevix, UTC, Camargo Corrêa, Egesa, Galvão Engenharia (veja quadro), pagaram R$ 7,5 milhões, segundo o documento da Receita Federal, que tem 17 páginas dedicadas ao petista. O que tem chamado a atenção da Força-Tarefa responsável pelas 10 etapas da Operação Lava-Jato é o aumento da prestação de serviços às empreiteiras suspeitas, especialmente, no ano eleitoral de 2010, em 2011 e 2012. Somente em 2010, a JD faturou R$ 2,44 milhões com contratos com a Delta Engenharia, OAS, Egesa, Engevix, Camargo Corrêa e Galvão Engenharia. E em 2012, outro ano de campanha eleitoral, empresas do mesmo grupo pagaram à consultoria de José Dirceu R$ 3,06 milhões, ou seja, quase a metade de todo o faturamento da JD naquele ano – R$ 7 milhões.
Internacional As suspeitas envolvendo as atividades do petista – condenado a sete anos e 11 meses por envolvimento no escândalo do mensalão – surgiram a partir da confirmação da existência de pagamentos a JD feito pela empresa Jam de Miltn Pascowitch, no valor de R$ 1,45 milhão. De acordo com o ex-gerente de Serviço da Petrobras Pedro Barusco, que está preso acusado de envolvimento no escândalo do desvio de recursos da estatal, Pascowitch era, na verdade, o responsável pelo recebimento da propina que se destinava ao PT paga pela empresa Engevix, também da carteira de clientes da empresa de consultoria de Dirceu.
Essa e outras operações da JD levantaram suspeita no Ministério Público e da Polícia Federal, que agora investigam se a empresa realmente prestou serviços de consultoria. A suspeita é que eram movimentações financeiras dissimuladas para encobrir dinheiro desviado de contratos com a Petrobras.
Em depoimento à Justiça Federal na terça-feira, o empresário Gérson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix e réu da Operação Lava-Jato, admitiu que contratou serviços de consultoria do ex-ministro José Dirceu. Almada disse que após a saída de Dirceu do governo teve “uma primeira reunião” com o petista. “Ele se colocou à disposição para fazer um trabalho junto à Engevix no exterior, basicamente voltado a vendas da empresa em toda a América Latina, Cuba e África, que é onde ele mantinha um capital humano de relacionamento muito forte”, disse o empresário.
Com isso, confirmou também a ligação do petista com Pascowitch, que teria participado também da reunião com ele. “Foi num hotel e, depois, tive duas reuniões no escritório do ministro José Dirceu e ali combinamos uma atuação voltada principalmente para o Peru e Cuba. Fizemos uma viagem para o Peru com o José Dirceu, onde ele tinha um excelente relacionamento. (Dirceu) é o que a gente chama de open door, fala com todo mundo, bota você nas melhores coisas, mas não resolve o close door. A gente tem que fechar contratos. Ele nos colocava em contato com vários tipos de relacionamentos. Mas não aconteceu nada, encerramos o contrato”, revelou..