Que o petista José Dirceu é um homem de várias faces – de guerrilheiro a deputado, de poderoso ministro do governo Lula a empresário bem-sucedido e, recentemente, presidiário –, todos sabem. Uma versatilidade que ele levou também para sua empresa JD Assessoria e Consultoria, agora investigada na Operação Lava-Jato por suspeita de lavagem de dinheiro desviado da Petrobras por meio de um grupo de empreiteiras. Além de prestar consultoria a pelo menos seis delas, que, segundo o Ministério Público, alimentaram o esquema de pagamento de propina na estatal, a JD também foi contratada por empresas dos mais diversos ramos: imobiliário, cultural, cervejaria, laticínio, marketing, editorial, advocatício, elétrico, digital, alimentício, vidraçaria, telecomunicações e automobilística, no período de 2006 a 2013, de acordo com levantamento da Receita Federal ao juiz Sérgio Moro, que preside as investigações da operação.
Internacional As suspeitas envolvendo as atividades do petista – condenado a sete anos e 11 meses por envolvimento no escândalo do mensalão – surgiram a partir da confirmação da existência de pagamentos a JD feito pela empresa Jam de Miltn Pascowitch, no valor de R$ 1,45 milhão. De acordo com o ex-gerente de Serviço da Petrobras Pedro Barusco, que está preso acusado de envolvimento no escândalo do desvio de recursos da estatal, Pascowitch era, na verdade, o responsável pelo recebimento da propina que se destinava ao PT paga pela empresa Engevix, também da carteira de clientes da empresa de consultoria de Dirceu.
Essa e outras operações da JD levantaram suspeita no Ministério Público e da Polícia Federal, que agora investigam se a empresa realmente prestou serviços de consultoria. A suspeita é que eram movimentações financeiras dissimuladas para encobrir dinheiro desviado de contratos com a Petrobras. A OAS, por exemplo, liberou R$ 2,4 milhões para a JD desde 2006, ano em que José Dirceu se tornou alvo das investigações do mensalão e que acabariam por levá-lo à prisão em 2013. Segundo a força-tarefa, a JD pode ter no esquema de desvio de recursos da Petrobras a mesma importância das empresas do doleiro Alberto Youssef, responsáveis pela lavagem de dinheiro, especialmente a destinada ao Partido Progressista (PP), o maior beneficiário das verbas desviadas.
Em depoimento à Justiça Federal na terça-feira, o empresário Gérson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix e réu da Operação Lava-Jato, admitiu que contratou serviços de consultoria do ex-ministro José Dirceu. Almada disse que após a saída de Dirceu do governo teve “uma primeira reunião” com o petista. “Ele se colocou à disposição para fazer um trabalho junto à Engevix no exterior, basicamente voltado a vendas da empresa em toda a América Latina, Cuba e África, que é onde ele mantinha um capital humano de relacionamento muito forte”, disse o empresário.
Com isso, confirmou também a ligação do petista com Pascowitch, que teria participado também da reunião com ele. “Foi num hotel e, depois, tive duas reuniões no escritório do ministro José Dirceu e ali combinamos uma atuação voltada principalmente para o Peru e Cuba. Fizemos uma viagem para o Peru com o José Dirceu, onde ele tinha um excelente relacionamento. (Dirceu) é o que a gente chama de open door, fala com todo mundo, bota você nas melhores coisas, mas não resolve o close door. A gente tem que fechar contratos. Ele nos colocava em contato com vários tipos de relacionamentos. Mas não aconteceu nada, encerramos o contrato”, revelou.