Dilma anuncia cortes e recebe críticas do MST

Presidente admite contingenciamento significativo no orçamento, mas acaba ouvindo reclamações de Stédile. Oposição diz que ação do governo está prejudicando população

Paulo de Tarso Lyra, Julia Chaib e Paulo Silva Pinto

Dilma participou da 12ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Ecológico e da inauguração de unidade de cooperativa do MST, em Eldorado do Sul (RS), ao lado de João Pedro Stédile (sentado à sua direita) - Foto: ROBERTO STUCKERT FILHO/PR


Brasília - Em um evento montado à feição para aplaudi-la, em Eldorado do Sul (RS), a presidente Dilma Rousseff ouviu críticas do coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, sobre a condução da política econômica e a falta de humildade do titular da Fazenda, Joaquim Levy. No discurso, Dilma disse que “ninguém tem de concordar com ninguém em tudo”, afirmou que a atual crise é passageira, colocou-se aberta ao diálogo e confirmou que terá de fazer cortes no orçamento para conseguir os 1,2% da meta de superávit primário. “Assim que sancionado (o orçamento), vamos também fazer o contingenciamento do nosso, que será significativo. Não vai ser um pequeno contingenciamento”, alertou a presidente.

Dilma, que tem sido vaiada em suas aparições recentes — ela enfrentou protestos na quinta-feira, em Goiânia — estava diante de uma plateia formada por trabalhadores rurais e movimentos sociais. Partiu de um aliado, contudo — o coordenador nacional do MST — a crítica mais forte: “Nenhum ministro aqui deve se sentir superior ao povo. Os ministros da senhora têm que ser mais humildes, como disseram na televisão. Se o orçamento tem problemas, por que o seu Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) não vem discutir conosco? Não basta querer acertar o orçamento da união apenas cortando no social”, retrucou Stédile.

A presidente reconheceu que o dirigente do MST tem sugestões a fazer, mas respondeu à altura. “Ninguém tem de concordar com ninguém em tudo; eu não estou aqui pedindo para concordarem com tudo que o governo faz, mas para entenderem o que nós queremos com um movimento como o de vocês, o que nós queremos? Queremos diálogo, muito diálogo”, disse ela, lembrando que “dialogar é, necessariamente, uma posição de humildade”.

Dilma lembrou os esforços feitos pelo governo para manter os empregos no auge da crise, os investimentos na construção de casas populares com o Minha casa, minha vida — acrescentando que vai dar prosseguimento ao Minha casa, minha vida rural — amparou-se nas reservas fiscais de R$ 375 bilhões para assegurar que o país não vai quebrar.
“Somos um país equilibrado no fundamental, na base, no cerne, no coração. O nosso desequilíbrio é momentâneo, nós juntos aprovando o ajuste saímos disso (crise) no curto prazo”. Mas, para isso, ela confirmou que terá de contigenciar recursos aprovados no orçamento para atingir a meta fiscal e equilibrar as contas públicas. “Para fazer isso, nós contamos com as medidas que  enviamos ao Congresso e também com um processo de redução dos nossos gastos”. Segundo a presidente, a partir do reequilíbrio econômico, “todas as demais medidas vão ser tomadas”.

IMPACTO

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disse que os cortes afetarão áreas importantes do governo. “Sem dúvida afetará, já afetou. Os primeiros cortes já afetaram a área de educação. E a previsão de cortes deve atingir áreas de grande impacto para a população”, disse. Para ele, as ações anunciadas por Dilma são consequências dos erros do primeiro mandato. “Na verdade, é mais da agenda na qual quem paga a conta do ajuste é a população mais pobre, a classe média trabalhadora”, afirmou. Na avaliação dele, Dilma tem tomado atitudes que desmentem o compromisso assumido por ela durante a campanha eleitoral. “(Como) o aumento dos juros, da gasolina, da energia, e a retirada de direitos, como pensões, abono salarial, seguro-desemprego”, enumerou.

Como a presidente ainda não anunciou oficialmente o montante do contingenciamento, o mercado ainda trabalha com expectativas e especulações. “Será entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões”, avalia o economista chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.

Ele acha que, ainda assim, não se chegará a um superavit primário de 1,2% do PIB, devido à dificuldade para aprovar medidas no Congresso. “Ficará em torno de 0,8%. Se ficar acima de 0,5%, já pode ser suficiente para evitar que o Brasil perca o grau de investimento”, apostou Velho.

 

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