Brasília - Em um evento montado à feição para aplaudi-la, em Eldorado do Sul (RS), a presidente Dilma Rousseff ouviu críticas do coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, sobre a condução da política econômica e a falta de humildade do titular da Fazenda, Joaquim Levy. No discurso, Dilma disse que “ninguém tem de concordar com ninguém em tudo”, afirmou que a atual crise é passageira, colocou-se aberta ao diálogo e confirmou que terá de fazer cortes no orçamento para conseguir os 1,2% da meta de superávit primário. “Assim que sancionado (o orçamento), vamos também fazer o contingenciamento do nosso, que será significativo. Não vai ser um pequeno contingenciamento”, alertou a presidente.
Dilma, que tem sido vaiada em suas aparições recentes — ela enfrentou protestos na quinta-feira, em Goiânia — estava diante de uma plateia formada por trabalhadores rurais e movimentos sociais. Partiu de um aliado, contudo — o coordenador nacional do MST — a crítica mais forte: “Nenhum ministro aqui deve se sentir superior ao povo. Os ministros da senhora têm que ser mais humildes, como disseram na televisão. Se o orçamento tem problemas, por que o seu Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) não vem discutir conosco? Não basta querer acertar o orçamento da união apenas cortando no social”, retrucou Stédile.
A presidente reconheceu que o dirigente do MST tem sugestões a fazer, mas respondeu à altura. “Ninguém tem de concordar com ninguém em tudo; eu não estou aqui pedindo para concordarem com tudo que o governo faz, mas para entenderem o que nós queremos com um movimento como o de vocês, o que nós queremos? Queremos diálogo, muito diálogo”, disse ela, lembrando que “dialogar é, necessariamente, uma posição de humildade”.
Dilma lembrou os esforços feitos pelo governo para manter os empregos no auge da crise, os investimentos na construção de casas populares com o Minha casa, minha vida — acrescentando que vai dar prosseguimento ao Minha casa, minha vida rural — amparou-se nas reservas fiscais de R$ 375 bilhões para assegurar que o país não vai quebrar.
IMPACTO
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disse que os cortes afetarão áreas importantes do governo. “Sem dúvida afetará, já afetou. Os primeiros cortes já afetaram a área de educação. E a previsão de cortes deve atingir áreas de grande impacto para a população”, disse. Para ele, as ações anunciadas por Dilma são consequências dos erros do primeiro mandato. “Na verdade, é mais da agenda na qual quem paga a conta do ajuste é a população mais pobre, a classe média trabalhadora”, afirmou. Na avaliação dele, Dilma tem tomado atitudes que desmentem o compromisso assumido por ela durante a campanha eleitoral. “(Como) o aumento dos juros, da gasolina, da energia, e a retirada de direitos, como pensões, abono salarial, seguro-desemprego”, enumerou.
Como a presidente ainda não anunciou oficialmente o montante do contingenciamento, o mercado ainda trabalha com expectativas e especulações. “Será entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões”, avalia o economista chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.
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