Brasília, 25 - O senador Paulo Paim (RS), petista histórico com quatro mandatos de deputado e dois de senador, diz que deixará o partido se o Congresso votar a favor das Medidas Provisórias 665 e 664, que restringem a concessão de benefícios trabalhistas e integram o ajuste fiscal proposto pelo ministro Joaquim Levy, da Fazenda.
Publicamente, porém, o discurso do governo Dilma Rousseff é de que nada será alterado nas medidas provisórias do ajuste, razão pela qual Paim mantém sua pressão. Afirma que já conversa com outros parlamentares petistas sobre a criação de uma nova sigla de centro-esquerda. "Há uma preocupação grande na base do PT e da CUT", diz Paim sobre os efeitos colaterais do pacote fiscal.
Para o senador, é um "equívoco histórico" dizer que só a classe média alta foi para a rua protestar no dia 15 de março. "Uma parcela dos assalariados também foi. Mas ainda que fosse, a história mostra que a classe média tem um poder muito grande de influenciar a classe média mais baixa. O efeito dessas medidas será sentido sobretudo no chamado andar de baixo. Há um certo constrangimento no PT em relação à história de nós todos. Isso está criando espaço para que outros setores avancem. Eu disse ao presidente Lula que não há uma pauta positiva que venha do Executivo".
Questionado se estaria conversando com outros partidos sobre a possibilidade deixar o PT, Paim afirma que está "sem discurso". "Qual é o discurso do PT e do governo hoje? Dos juros? Da inflação? É dizer que não aconteceu nada no dia 15? Mas aconteceu... Não adianta tapar os olhos e não ver o que aconteceu. É um momento delicado e de muita inquietação. Se é para votar contra o trabalhador, eu prefiro voltar para a casa. Quando comecei a expor minhas divergências no partido, forças internas do PT vieram dizer: 'Já que tu estás descontente, então saia do partido'", afirma o senador.
Paim diz que terá muita dificuldade em permanecer no PT caso não ocorra "uma mudança que seja respeitável com os trabalhadores e a discussão do Fator Previdenciário". "Hoje (ontem) mesmo tenho uma conversa com dois senadores do PT que estão desconfortáveis. As MPs serão um parâmetro. Elas estão na pauta. Se continuar como está, minha saída será o caminho natural, mas jamais sairei atirando".
O senador acredita que, caso deixasse o PT, o ideal seria "criar um novo partido. "Um leque de partidos me procurou, mas o ideal seria criar um novo partido. Ninguém quer perder mandato. Teve gente me procurando para fundir partido também."
Paim também confirma que existem conversas concretas sobre fusão partidária na base governista.
Dilma
"O Lula tem uma forma de fazer política e a Dilma tem outra. É difícil o diálogo com ela. O presidente Lula é muito mais sensível aos argumentos. Dilma é dura nos processos", diz o senador petista.
Vaccari
Sobre o tesoureiro do PT, João Vaccari, o senador afirma existir "um movimento dos dirigentes" para mantê-lo no cargo. "Acho legítimo que ele se licencie. O povo fica indignado, e com razão. É um processo pesado. Se eu puder dar um conselho a ele seria esse: peça licença e faça sua defesa."