A capacitação de vereadores de Ipatinga para o exercício da suas atividades na Câmara é tão ampla que inclui até mesmo um curso sobre projetos para prevenção de câncer de mama. Pelo menos três parlamentares – Ley Trânsito (PSD), ex-presidente da Casa, Roberto Carlos Muniz (PTdoB) e Adiel Fernandes (SDD) – participaram desse treinamento, que aconteceu em Fortaleza (CE), entre os dias 25 e 31 de dezembro, consumindo o feriado deles do Natal e do réveilon. Para aprender sobre como trabalhar com o tema, o legislativo municipal desembolsou um total de R$ 17,8 mil para pagamento de passagens aéreas e diárias. Cada vereador recebeu R$ 4,9 mil para gastar em sete dias, ou seja, quase 70% do valor total do salário de R$ 7,2 mil que recebem por mês pela representação do município.
No panfleto do Instituto Capacitar, distribuído para dar publicidade ao curso, a programação da capacitação em Fortaleza teve início no dia 26 de dezembro, quando seriam feitas as inscrições e distribuição do material didático. O sábado foi todo dedicado à prevenção às drogas, pela manhã e à tarde. No domingo, a aula foi sob o tema “Resgatando a ética e a cidadania” e, na segunda, sobre os projetos para prevenção do câncer de mama. No último dia, o curso de 20 horas foi dedicado a falar sobre “Integração de projetos”. Ao justificar a escolha dos temas, o advogado Clésio Drumond disse que as áreas de saúde, trânsito e drogas são as principais preocupações da população e, portanto, onde os administradores e vereadores devem estar atuando.
Condenação
A elaboração de cursos para ofertar a vereadores, prefeitos, seus vices, secretários, assessores, gestores e servidores municipais já trouxe dores de cabeça para o dono da Capacitar, Clésio Drumond. No mês passado, ele foi condenado pela Justiça de primeira instância em Vespasiano por levar um grupo de oito vereadores de São José da Lapa, entre 2001 e 2004, para participar de cursos nos mesmos destinos oferecidos aos políticos de Ipatinga. Além de pagar multa, Clésio e seus então sócios, seu irmão Clermon Drumond e Divino Resende de Moraes, estão proibidos de assinar contratos com o poder público pelos próximos 10 anos. À época, além da agência de viagem e do Instituto Nacional Municipalista (INM), o advogado presidia a União Nacional dos Vereadores, que promoveu os cursos oferecidos aos vereadores da pequena São João da Lapa, condenados a indenizar o cofre do município em R$ 474,2 mil.
Clésio Drumond – candidato derrotado a deputado federal em 2010 –, disse que já recorreu da decisão e tem certeza da absolvição no Tribunal de Justiça de Minas. “A condenação é de cerca de R$ 1,3 mil e vamos até o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para provarmos nossa inocência. Não é pelo valor, mas pela questão moral”, afirmou o advogado. Ele disse ainda que seu instituto não é o único a oferecer cursos para os políticos de Ipatinga, sendo que dos 77 cursos dos quais participaram, “apenas 25%” seriam de sua responsabilidade. Mas problemas com sua atividade não chegam a ser novidade para o empresário. Seu extinto INM, que encerrou as atividades em 2011, foi alvo de investigações pelos gastos excessivos com diárias nos estados da Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santos, além dos de Minas.
A Câmara Municipal de Ipatinga, por meio de nota, informou ontem que “todos os gastos com diárias têm amparo legal e todos os precedimentos são conferidos por servidores públicos efetivos, devidamente treinados para essa atividades.” Segundo o legislativo municipal, “após a realização dos cursos, todos os vereadores são obrigados a apresentarem um relatório sobre a viagem”. Informou também que o Instituto Capacitar não é o único a oferecer cursos à Casa e que a empresa de Clésio Drumond CDC Turismo não foi responsável pela fornecimento das passagens. “Todas as passagens foram adquiridas por meio de licitação (modalidade pregão) e seguiram os procedimentos legais determinados pela Lei Federal 8666/93. Em 2014, foram as empresas Máster Turismo (LTDA) e Ártico Turismo (LTDA) as fornecedoras das passagens”, afirma a nota.