Brasília – Uma semana após a saída do titular da Educação, Cid Gomes, a presidente Dilma Rousseff aceitou o pedido de demissão de outro ministro: Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Jornalista, Traumann ficou quase um ano e dois meses à frente da pasta. A saída dele ocorre sete dias depois do vazamento de um documento interno do Planalto que trata da comunicação social do governo e da situação política atual. Assume interinamente o cargo o secretário-executivo da pasta, Roberto Messias.
O documento, elaborado pela Secom, não tem assinatura e circulou no dia 17 entre ministros, dirigentes do PT e assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto diz que o governo está perdendo de “goleada” para a oposição nas redes sociais. Ainda critica as medidas de ajuste fiscal e a escolha de Joaquim Levy para comandar a Fazenda.
“A questão da comunicação com a sociedade brasileira, em relação aos principais temas tratados no governo, para que os ministros possam ter a mesma linguagem e ter uma estratégia de comunicação. Não tem nenhum sentido nós termos no mesmo dia dois ministros falando do mesmo tema, quando pode um ministro ir para um estado, outro ministro para outro estado. Ficou definido que, com a coordenação da Secom, vai haver essa organização da comunicação do governo, através dos ministros. Também foi ratificada a importância de que a equipe econômica continue o seu trabalho de comunicação com o Congresso”, afirmou o ministro das Cidades, Gilberto Kassab.
Por causa do documento, o ex-ministro foi convidado a prestar esclarecimentos na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado. Após a demissão, Traumann publicou nas redes sociais trechos da música Novos rumos, do cantor e compositor Paulinho da Viola. “Todos os anos vividos, são portos perdidos que eu deixo pra trás, quero viver diferente, que a sorte da gente, é a gente que faz.” O governo busca nomes para o lugar de Traumann, que chegou a ser cotado para assumir o cargo de gerente de comunicação na Petrobras, o que pode ter sido descartado por causa do vazamento.
REFORMA Traumann é o terceiro ministro a deixar o governo de Dilma neste segundo mandato. O primeiro foi Marcelo Néri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, em fevereiro e Cid Gomes saiu do Ministério da Educação na quarta-feira da semana passada (veja Memória). A expectativa é de que Dilma anuncie o substituto de Cid até amanhã. Apesar das mudanças, a presidente negou que fará uma reforma ministerial. A saída do titular da Educação era interpretada por aliados como o momento perfeito para fazer trocas providenciais, como colocar o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no MEC e levar o titular da Defesa, Jaques Wagner, para o lugar dele.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, comentou a saída de Traumann. “Entrar ou sair de ministério faz parte da vida normal.
Recomeço difícil
A saída de Thomas Traumann é apenas mais um dos muitos problemas enfrentados pela presidente Dilma, em menos de três meses do seu segundo mandato. Além dele, deixaram o governo Cid Gomes, da Educação, substituído interinamente por Luiz Cláudio Costa; e Marcelo Néri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, substituído por Roberto Mangabeira Unger. Cid Gomes pediu demissão em 18 de março logo depois de participar na Câmara dos Deputados de sessão em que declarou que parlamentares “oportunistas” devem sair do governo. Ele foi convocado pela Casa devido a uma declaração de que a Câmara tem “uns 400 deputados, 300 deputados” que “achacam” o governo, dada durante um evento do qual participou, em fevereiro, na Universidade Federal do Pará. “Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo, vão pra oposição. Isso será mais claro para o povo brasileiro”, disse Cid na tribuna da Câmara (foto), o que deixou os parlamentares ainda mais irritados. Era tudo o que a presidente Dilma Rousseff não precisava: mais um embate com o Congresso. Já a saída de Marcelo Néri, em 5 de fevereiro, ocorreu sem grandes explicações. Néri chegou a representar o Brasil ao lado do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça..