Brasília – Levantamento feito pela reportagem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indica a existência de pelo menos 50 futuros partidos em fase de coleta de assinaturas no país. Pelos nomes escolhidos, supõe-se que a maioria deles se encaixe na definição de “catch-all party”, isto é, sem corte ideológico definido. Outros são patrocinados por medalhões da política brasileira, como a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, ou o Partido Liberal (PL), que Gilberto Kassab (PSD) quer recriar. Há ainda quem aposte no espaço aberto pelas legendas tradicionais no chamado “voto de opinião”, capitalizando os eleitores desiludidos com os grandes partidos.
À esquerda, a novidade foi o lançamento, na sexta-feira, do Raiz Movimento Cidadanista. A iniciativa é capitaneada por figuras dissidentes da Rede Sustentabilidade, como a deputada Luiza Erundina (PSB-SP). “Somos os 99%. E estamos indignados”, diz um trecho da “Carta Cidadanista”, manifesto de fundação do novo partido. As inspirações estão no Podemos espanhol e no Syriza grego.
Fundador e primeiro presidente do Libertários, o publicitário mineiro Juliano Torres, de 26 anos, admite que “vai demorar muito tempo” para o partido ser formalizado. O Liber começou a se organizar em 2006, na internet. “Criou-se a imagem que liberal só defende reduzir o tamanho do estado e cortar impostos, mas nos preocupamos com violência policial, drogas, armas, etc.”.
Coordenador do Piratas para o Centro-Oeste, o estudante João Paulo Apolinário Passos, de 22, diz acreditar que há, sim, espaço para legendas “ideológicas” no país. “Há uma crise de representatividade e legitimidade dos partidos. Aqueles com bandeiras claras e definidas podem ajudar nesse cenário. Entretanto, mesmo sendo um partido que segue uma ‘ideologia’ pirata, não nos consideramos um partido de nicho”, diz ele. Além da questão do “livre compartilhamento de informações e conhecimento”, por meio da internet, os piratas brasileiros estão preocupados com questões como direitos dos animais, mulheres, negros e homossexuais, entre outras.
Para o cientista político Ricardo Caldas, o momento é propício para melhorar a representatividade dos partidos, mais do que criar novas legendas. “Nos EUA existem mais de 100 partidos registrados, e eles lidam bem com todos eles por meio de um filtro que é o sistema eleitoral. Aqui no Brasil, por outro lado, o sistema eleitoral cria partidos de baixa representatividade”, diz ele. “Este ano, discutiremos a reforma política e isso, na minha opinião, é mais importante do que ‘importar’ o Podemos espanhol ou criar a sucursal brasileira do Partido Pirata.