A paralisação das máquinas e a redução no número de operários em obras pelas rodovias mineiras são alguns dos impactos mais perversos do arrocho fiscal e cortes de investimentos, temas que tomaram conta do debate político nos primeiros meses do ano. O cenário de austeridade já se reverte em um semestre com pouca liberação de verbas e muitos adiamentos de ordens de serviços – etapa que marca o início das obras. Em Minas Gerais, estado com a maior malha rodoviária do país, a frustração da população, que ouviu nos últimos anos promessas de melhorias para suas estradas, é ainda maior. E a decepção começa a se transformar em protestos em várias regiões. Na semana passada, a BR-367, no Vale do Jequitinhonha, foi fechada por moradores por três dias. Tanto nas vias estaduais, quanto nas federais, as definições sobre novos investimentos estão paradas e somente a partir do segundo semestre devem ser retomadas.
Segundo relatório de fevereiro do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), 31 obras em MGs que estavam inscritas no programa Caminhos de Minas, lançado pela gestão anterior do governo estadual, já têm projetos de engenharia concluídos, mas estão totalmente paralisadas, sem previsão de início das obras de asfaltamento. Outras 76 obras tiveram a elaboração do projeto executivo interrompida. O programa foi lançado em 2010, pelo então governador Antonio Anastasia (PSDB), como continuidade do ProAcesso e previa o asfaltamento de mais de 8 mil quilômetros de estradas mineiras, mas, até agora, apenas 251 quilômetros foram concluídos.
O cenário se repete nas rodovias federais, de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit).
PROTESTOS E ATRASOS
Nos vales do Jequitinhonha e Mucuri os atrasos para tirar do papel melhorias nas estradas têm gerado insatisfação, uma vez que promessas de asfaltamento ocorrem desde os anos 1990. Na semana passada, moradores interditaram por três dias a BR-367, próximo a Virgem da Lapa, cobrando obras de manutenção e maior fiscalização para caminhões de carga pesada. A rodovia, que atravessa todo o Jequitinhonha e tem mais de 80 quilômetros em terra batida, é considerada essencial para o desenvolvimento da região. Desde 2010, a obra foi incluída no PAC, mas ainda não começou. Segundo relatório do Ministério do Planejamento, a pavimentação da BR-367 está em fase de preparação, e a previsão de início das obras é para o segundo semestre.
A região mais pobre do estado também recebeu várias promessas de obras de pavimentação por parte do governo estadual, mas poucas foram executadas. Dois trechos entre Setubinha, Capelinha e Itamarandiba – em um total de 102 quilômetros – foram incluídos no programa Caminhos de Minas. Um dos trechos teve projeto concluído, mesmo assim, não há previsão para o início das obras. “Será que nosso sonho e o de pessoas que transitam no local, de ter asfalto, demorará mais décadas? Capelinha e Itamarandiba somam mais de 71 mil moradores e o trecho de 52 quilômetros entre as duas cidades está em péssimas condições, sem asfalto”, cobra o administrador Darlan Farnezi, de 27 anos.
O morador aponta que a revitalização no trecho será importante para diminuir o tempo de viagem até o hospital de Diamantina, referência na região. “São anos de promessas não cumpridas, e o Vale do Jequitinhonha clama por atenção. Lembro de que, quando anunciada, foi falado que já existiam recursos disponíveis.
Na Zona da Mata, um trecho de 50 quilômetros da BR-120, que liga São Geraldo e Dona Euzébia está em péssimas condições. “Essa estrada, construída na época de Getúlio Vargas, segue até Itabira. Mas o trecho que corta nossa cidade está em terra batida e nunca foi incluído em nenhum programa”, cobra o secretário de Turismo de Visconde do Rio Branco, Cleber Lima. O movimento Pró-Asfalto 120, liderado pela cidade, que promoveu um protesto ontem, recebeu o apoio de cidades vizinhas, que também cobram as melhorias na via para facilitar a mobilidade na região. Apesar de ser uma BR, o trecho é de responsabilidade do DER-MG.
GRANDE BH
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, também são muitas as demandas por melhorias no sistema rodoviário. Os 64 quilômetros que ligam o povoado de Casa Branca, distrito de Brumadinho, a Crucilândia, foram incluídos no Caminhos de Minas, mas a obra está paralisada. A reportagem do Estado de Minas percorreu o trecho nesta semana e constatou um cenário de abandono e perigo para os usuários da rodovia. A estrada de terra, usada principalmente por ônibus e caminhões, tem pouquíssimas sinalizações e muitas curvas.
A aposentada Felismina Amorin Santos, de 76, mora ao lado da MG-040 desde criança e tem assistido ao aumento intenso no fluxo de veículos que não é acompanhado pelas melhorias na infraestrutura. “A rotina mudou muito por aqui e continua mudando de forma rápida.
O caminhoneiro Sotero Silvério de Oliveira, de 66, se lembra do início das medições em 2014 e reclama da falta de continuidade nas obras públicas. “Espero que sejam aproveitadas pelo menos as medições já feitas. Com a mudança de governo, fico com receio de que a nova administração resolva fazer tudo de novo, e as obras mesmo não comecem . São cada vez mais comuns as batidas de caminhões e carros, porque os veículos derrapam muito no cascalho e acabam acertando os barrancos”, conta Oliveira.
.