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Estado de Minas

Após delação, empreteiro vai para prisão domiciliar

Mais um executivo da Camargo Corrêa que se dispôs a revelar o que sabe sobre a corrupção na Petrobras vai aguardar em regime domiciliar o fim das investigações da Operação Lava-Jato


postado em 31/03/2015 06:00 / atualizado em 31/03/2015 07:26

Advogados de Dalton Avancini deixaram nesse segunda-feira a custódia da PF em Curitiba com uma mala dentro do carro(foto: Aniele Nacimento/Gazeta do Povo)
Advogados de Dalton Avancini deixaram nesse segunda-feira a custódia da PF em Curitiba com uma mala dentro do carro (foto: Aniele Nacimento/Gazeta do Povo)

Curitiba – O empreiteiro Dalton Avancini, diretor-presidente da Camargo Corrêa Construções e Participações, deixou nessa segunda-feira a Custódia da Polícia Federal em Curitiba (PR) e seguiu escoltado por agentes direto para sua casa, em São Paulo, onde aguardará o fim do processo da Lava-Jato em regime de prisão domiciliar. Assim como seu colega de empreiteira, Eduardo Leite, vice-presidente, ele terá que usar, dia e noite, uma tornozeleira eletrônica.

Acusado de lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa, Avancini deu 11 depoimentos nas últimas semanas no âmbito de delação premiada. O acordo foi homologado pela Justiça Federal no Paraná. O empreiteiro foi preso em 14 de novembro durante a Operação Juízo Final, sétima etapa da Lava-Jato que mirou o braço empresarial do esquema de corrupção que se instalou na Petrobras. A força-tarefa da Lava-Jato descobriu que o cartel tomou conta de contratos bilionários da Petrobras no período entre 2003 e 2014. Em troca de propinas para políticos – pelo menos 50 deputados, senadores e governadores estão sob investigação – e para ex-dirigentes da estatal petrolífera, as empreiteiras distribuíam valores, inclusive para o caixa de partidos.

Avancini relatou aos investigadores detalhes da ação do cartel na Petrobras e também em outras áreas do governo federal. Há duas semanas, Eduardo Leite foi escoltado para casa, em São Paulo, de tornozeleira eletrônica. No total, 15 acordos foram feitos com o Ministério Público Federal (MPF). Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, também cumpre pena em casa.

SEGREDO DE JUSTIÇA
Leite e Avancini prometeram revelar o que sabem sobre corrupção na Petrobras e outras empresas públicas, e aceitaram pagar R$ 7,5 milhões de multa – R$ 5 milhões o primeiro e R$ 2,5 milhões para o outro. “Dalton Avancini colaborou e vai continuar colaborando com a Justiça”, disse o criminalista Pierpaolo Bottini, que defende o empresário e nessa segunda-feira levava uma mala no carro ao deixar a custódia da PF em Curitiba antes da transferência do seu cliente. “O importante é que ele está em casa. É o fim de um tormento.” O teor das revelações que fizeram continua sob segredo de Justiça, mas a reportagem apurou que ambos citaram o pagamento de propina na licitação da usina nuclear Angra 3 e revelaram o nome de outros executivos da empreiteira que participaram do esquema de suborno.

Num trecho de um dos depoimentos de Leite que os procuradores tornaram público, ele diz que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, sabia do esquema de pagamento de propina na diretoria de Serviços da Petrobras. Ainda de acordo com Leite, Vaccari teria dito a ele que sabia que a Camargo Corrêa atrasara o pagamento de R$ 10 milhões em propina e sugeriu que o valor fosse depositado como doação oficial ao partido. O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D’Urso, refutou de forma veemente que seu cliente soubesse das irregularidades na Petrobras e negou que ele tenha pedido que o suborno fosse pago por meio de contribuição oficial. O PT repete em sucessivas notas que o partido só aceita contribuições legais, que são declaradas para a Justiça eleitoral.
Ao prestar depoimento em delação premiada, Avancini informou que a empresa pagou pouco mais de R$ 100 milhões em propina para obter contratos de obras na usina de Belo Monte. Ainda segundo Avancini, o valor foi dividido entre PT e PMDB, com cada um dos partidos abocanhando 1% do valor dos contratos.


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