São Paulo - As principais correntes internas do PT estão próximas de um acordo que prevê a proibição de instâncias do partido receberem doações de empresas privadas. A sigla pretende compensar a perda criando uma ferramenta digital para coleta de doações do mais de 1 milhão de filiados. Pela proposta, candidatos da legenda a cargos eletivos estão liberados para receber doações privadas, mas assumirão totalmente a responsabilidade pela origem dos recursos.
As principais lideranças do partido preferem acabar com o financiamento privado de campanha a conviver com as suspeitas de ilegalidade que as doações legais possam suscitar. "Por que financiamento privado para outros partidos é doação e para o PT é propina?", questionou Falcão. Nesse sentido, discorrem os representantes, é preferível "acabar com essa palhaçada".
A ideia surgiu na semana passada, depois que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, se tornou réu da Operação Lava-Jato. Vaccari é acusado de receber propinas de empresas fornecedoras da Petrobrás em forma de doações legais ao partido e seus candidatos. Ele nega as acusações.
A proposta da proibição amadureceu na segunda-feira, 30, durante reunião entre o ex-presidente Lula, a executiva nacional do PT e os presidentes dos 27 diretórios estaduais do partido. Entre as principais forças políticas internas, apenas um setor da corrente majoritária Construindo Um Novo Brasil (CNB) resiste à ideia. Segundo relatos, durante a reunião de ontem, apenas a secretária de Relações Internacionais, Monica Valente, mulher do ex-tesoureiro Delúbio Soares, preso por envolvimento no mensalão, foi contra a proposta. "Não tem consenso nisso", disse ela, de acordo com participantes da reunião.
As decisões sobre a proibição das doações privadas e o afastamento de Vaccari da tesouraria petistas serão definidas na próxima reunião do diretório nacional do PT, dia 17 de abril.
Afastamento
Sobre o futuro do tesoureiro, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro defendeu ontem seu afastamento do cargo, enquanto Lula preferiu o silêncio, o que foi interpretado como um recuo do ex-presidente na defesa de Vaccari. "Se ele for denunciado e a denúncia for aceita, como é a informação que nós temos, acho que o partido deve pedir que ele se afaste e, se não se afastar, afastá-lo preventivamente", disse Tarso ao deixar o local da reunião.
O encontro se deu em um hotel na região Sul de São Paulo a portas fechadas. Por determinação de Lula, todos os participantes tiveram de deixar os celulares na entrada do salão. Lula reclamava de quem saía para ir ao banheiro e pedia insistentemente que a porta fosse mantida fechada. De acordo com relatos, o ex-presidente fez um discurso ensaiado no qual apontou quatro crises a serem enfrentadas pelo governo e pelo PT: corrupção, política, econômica e de comunicação. O ex-presidente chegou a usar de ironia diante de avaliações positivas de alguns dirigentes estaduais. "Ouvi os informes de todos os Estados, gostei muito, mas tem gente que está mentindo", disse Lula.
Antes da reunião, os convidados ouviram uma explanação do novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. Um dos convidados era o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, investigado na Lava-Jato.