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Estado de Minas

Candidatos em eleições passadas retomam rotina sem pedir votos

Candidatos que tiveram seus minutos de fama na campanha passada já retomaram a vida normal e seus ofícios, mas há os que não abandonam o sonho de fazer carreira política


postado em 06/04/2015 06:00 / atualizado em 06/04/2015 07:58

"Muita gente me conhece e me liga. Faço muita visita, e isso é bom para manter a imagem, porque eu penso em me candidatar de novo" - Roberto Bin Laden, comerciante (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

São 15h de quinta-feira. Num bar na Rua Guaicurus, zona boêmia de Belo Horizonte, um cliente insere moeda na Jukebox – máquina de música – e a canção Deixa eu tocar seu coração, do Jeito Moleque, começa a ser entoada em volume alto. Satisfeito com a escolha, ele volta a sentar na mesa para beber a cerveja de um litro. Atrás do balcão do estabelecimento, Roberto Bin Laden, de 46 anos, candidato derrotado a deputado estadual do PSB, ajeita as travessas de tropeiro, dobradinha e carne cozida. Depois de ganharem notoriedade nas eleições, Bin Laden, Mister M, Delegata e outros 1.765 candidatos que não tiveram sucesso no último pleito retomaram a vida normal. E por onde andam? Os almejantes a políticos estão nos bares, sacolões, cantando nas igrejas, estudando para concursos e, alguns deles, já de olho nas eleições municipais de 2016.

O barbudo Bin Laden, cujo nome de batismo é Carlos Alberto Coelho, continua a mil, mesmo depois das eleições. Ele é dono de dois bares, um na Rua Guaicurus – onde ganhou o apelido do nome do terrorista há 12 anos – e outro ao lado da rodoviária. Além de administrar os bares, Bin Laden, que também já concorreu a vereador em 2012, vive numa rotina intensa: faz visitas a doentes, ajuda a organizar velórios de amigos, cuida de time de futebol amador. “Muita gente me conhece e me liga. Faço muita visita, e isso é bom para manter a imagem, porque eu penso em me candidatar de novo”, conta.  O candidato teve apenas 527 votos na eleição passada, gastou R$ 12 mil, mas está confiante em 2016, quando almeja uma cadeira na Câmara Municipal de Belo Horizonte. “Agora, o Brasil todo me conhece como político”, diz.

O nome parece um mistério: Guedes Mister M – uma referência ao ilusionista mascarado, o norte-americano Val Valentino. Mas José de Araújo Guedes, de 51, é figura carimbada nas campanhas de rádio e TV e no meio político em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), onde já foi vereador por dois mandatos e vice-prefeito. Desde 2000, o Mister M mineiro, que já trabalhou como auxiliar de mágico, usa o apelido para arrebanhar votos. “A primeira vez que fui eleito foi quando fiz uma mágica na praça para um urubu descer do céu. E desceu. Depois daquilo, fiquei conhecido”, conta.

"As eleições me decepcionaram. Todo mundo reclama, fui até maltratada. Todo mundo fala que quem está na política está roubando' - Flávia Azvedo, advogada (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Em outubro passado, nem mágica adiantou, e ele conseguiu só 4 mil votos para deputado federal pelo PMDB. “Gastei três sapatos. Mas faltou andar mais. O problema é que eu tenho tostão, e eles (os concorrentes), milhão”, justifica. Nem por isso Mister M desapareceu. Contradizendo o apelido, o ex-mágico está bem aparecido, trabalhando para 2016 e sonhando alto: ser prefeito em Esmeraldas. Ex-assessor na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), ele está dedicado a uma obra social de inclusão digital, além de participar de reuniões de associações comunitárias em Esmeraldas.

SACOLÃO
“O ‘hortifruti’ está variando muito. Alface está muito cara, tem dia que não consegue comprar cebolinha. Você chega na Ceasa e os produtores falam que não vão plantar mais. A situação está de se preocupar”, conta Adilson Soares Rufino Júnior, de 37, o Júnior do Sacolão Total. Quem vê o dono de quatro sacolões em Contagem, na RMBH, falar em meio a caixas de legumes e frutas nem imagina que, há cinco meses, sua maior preocupação era conseguir votos suficientes para se eleger deputado estadual pelo PMDB.

Estreante nas eleições, ele teve 1.275 votos, quando o mínimo atingido por um deputado estadual eleito pelo partido foi de 43,3 mil votos. “Na campanha, cada voto sai a R$ 50. Achei que recebi poucos votos perto do que gastei. Trabalhei dobrado nesse período e quase abandonei minhas lojas”, explica Júnior, que não quis revelar cifras. Simpatizante da política desde menino, ele almeja implantar na RMBH sistema de transporte semelhante ao de Londres, onde morou por quatro anos.

Se tiver mais apoio do partido, com quem já está se reunindo, Júnior cogita encarar a disputa a vereador em Contagem. Mas, enquanto 2016 não chega, o despertador continua tocando às 5h45. “Às 6h30, chego na Ceasa para liberar os caminhões. No sacolão, ajudo a repor a banca, a carregar mercadoria. Se o motorista não vem, sou eu quem dirige o caminhão”, diz Júnior, que reconhece ter ficado mais popular depois da campanha eleitoral.


Decepção depois da disputa

Primeiro foi a decepção amorosa e, agora, a desilusão com a política. Essa conjunção trágica de fatores fez a advogada Flávia Azevedo sepultar de vez o codinome Delegata, que lhe rendeu momentos de fama em BH e no Brasil. De visual novo e cabelos curtos, depois das eleições, ela apagou todos seus perfis nas redes sociais e só quer saber de estudar para passar num concurso. “Vou para o cursinho de manhã e estudo cinco horas por dia em casa. Tenho prova para delegado em Pernambuco em abril, mas meu sonho é o Ministério Público”, conta a candidata derrotada a deputada estadual pelo PEN. As últimas eleições deixaram até veteranos em campanha desanimados de continuar, caso da cantora Elzi, candidata a deputada federal pelo PSB.

Em 2013, Flávia espalhou faixas nas ruas do Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de BH, à procura de Bonito, rapaz que conheceu num bate-papo da internet, e usou como assinatura o nome “Delegata”, seu apelido no chat. O namorado não veio, mas a história ganhou repercussão nacional, a Delegata virou subcelebridade instantânea e foi convidada pelo PEN para concorrer nas últimas eleições.

“Não tive apoio nenhum. Saía de casa às 7h e só voltava à noite. Ia a portas de faculdade, na Praça da Liberdade. Usei o chat para fazer campanha. Não fazia mais nada”, lembra Flávia, que teve 566 votos. “As eleições me decepcionaram. Todo mundo reclama, fui até maltratada. Todos falam que quem está na política está roubando”, diz. Flávia garante que, depois das eleições, a Delegata morreu. “Quando os eleitores viam esse nome, achavam que era brincadeira, ficavam receosos, estão cansados de palhaçada. Poderia ter concorrido com meu nome”, afirma Flávia.


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