Embora mantenha ainda a posição de maior central trabalhista do país, a organização vê sindicatos e trabalhadores migrarem para outras centrais ou passarem a atuar de forma independente.
Segundo dados do Ministério do Trabalho, as perdas se agravaram com a ascensão ao poder de Dilma Rousseff. Em 2011, primeiro ano da presidente que sucedeu o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, a CUT representava 38,2% do total de trabalhadores registrados na pasta. Neste ano, o número oficial baixou para 33,6%.
Nesse processo de mudança, a informação mais preocupante para os dirigentes da CUT é a perda de sindicatos na área do funcionalismo público - hoje o principal reduto da central que nasceu sob a inspiração das grandes greves de metalúrgicos da região do ABC Paulista, na década de 1980.
A perda mais recente foi a do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul, com 81 mil filiados. Há poucos dias, em assembleia, os professores gaúchos decidiram se desvincular da CUT, à qual estavam ligados há 19 anos.
A explicação mais visível para a redução do espaço da central de coloração petista é o surgimento de outras centrais sindicais. Entre as sete centrais hoje reconhecidas oficialmente, cinco surgiram de 2005 para cá. A mais nova, a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), foi reconhecida no fim de 2014.
"A CUT é a organização que mais sofre com a aparição de outras centrais", diz Miguel Torres, da Força Sindical. A central que ele dirige, a segunda maior do país, também está perdendo espaço para novas organizações.
Governismo
O surgimento de novas centrais, porém, não constitui a única explicação para as perdas da CUT.
Nos anos em que a economia ia de vento em popa, com os níveis de emprego e de reajustes salariais em alta, a proximidade com o governo era até considerada positiva.
Mas, com a mudança do vento e a necessidade de reajustes, que já começaram a ter efeitos sobre os trabalhadores, essa proximidade começou a ser vista como um defeito.
Na opinião do sindicalista Paulo Barela, da direção da Conlutas, central que ainda busca reconhecimento oficial e que disputa espaço com a CUT em várias frentes do funcionalismo público, a crise econômica está tornando mais agudas as contradições de central ligada ao PT.
"Até a metade do primeiro governo Dilma, o Brasil vivia uma certa estabilidade econômica. A crise externa não batia com força aqui. Agora ela se tornou tão profunda que vem obrigando o governo a tomar medidas impopulares, que atingem desempregados, doentes, viúvas", diz Barela. "Mas não é só isso. O país também vive uma crise institucional, com a polarização da política e o fortalecimento da direita. Nesse momento, o governo busca apoio nas centrais sindicais próximas. A CUT está sendo obrigada a desembarcar de mala e cuia na defesa do governo."
Essa é a contradição na qual a CUT está mergulhada. De um lado, procura se alinhar com outras centrais na crítica ao reajuste econômico do governo. De outro, é pressionada a sair às ruas em defesa do mesmo governo, diante dos problemas de governabilidade e das ameaças de impeachment.
Ao lado de movimentos sociais, a central já foi às ruas no dia 13 de março com essa pauta ambígua, que mistura protestos contra o ajuste fiscal, contra medidas antitrabalhistas e a defesa do governo, num contraponto às manifestações que pedem o "Fora Dilma". Ato semelhante, com apoio da CUT, está programado para amanhã, em todo o país.
Na terça-feira passada, em evento promovido pela CUT e por movimentos sociais da base de apoio do governo, Lula, fundador da central, defendeu o reajuste - que inclui cortes em benefícios trabalhistas - e cobrou: "Somos militantes políticos, não apenas economicistas".
Outro problema da central é a redução do número de parlamentares no Congresso ligados a ela. Procurado pela reportagem, o presidente da CUT, Vagner Freitas, não quis dar entrevista.
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