A Comissão de Ética Pública da Presidência da República instaurou processo para apurar a conduta do ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) Thomas Traumann. O ministro deixou o cargo depois que o site Estadão.com revelou com exclusividade a produção de um documento no qual a Secom apontava "caos político" no governo.
O conselheiro Mauro de Azevedo Menezes, relator do caso na Comissão de Ética, deu parecer favorável à "abertura de processo de apuração de infração ética, bem como a aplicação das sanções e recomendações cabíveis".
O processo foi instaurado no dia 24 de março. No dia seguinte, o jornalista pediu à presidente Dilma Rousseff exoneração do cargo. Houve uma mudança no procedimento padrão da Comissão de Ética, que costuma pedir esclarecimentos antes de abrir processo contra autoridades do governo federal.
A Comissão de Ética da Presidência foi provocada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que já aprovou na Comissão de Comunicação do Senado pedido para que Traumann seja convidado a explicar o conteúdo do documento. Como se trata de um convite, o ex-ministro pode declinar ou marcar a data, o que ainda não ocorreu.
O documento produzido pela Secom diz que os apoiadores da presidente estão levando uma "goleada" da oposição nas redes sociais e aponta como saída o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada pelo petista Fernando Haddad e que funcionou como o centro das manifestações anti-Dilma no dia 15 de março.
Munição
O texto elaborado pela Secom fez uma análise do atual momento político e sugeriu uma série de ações para melhorar a popularidade da presidente Dilma Rousseff e de seu governo.
Entre as medidas, apontou que as forças políticas que apoiam a presidente Dilma devem atuar de forma "coordenada e com missões claras", inclusive nas redes sociais. Diz o texto: "A guerrilha política precisa ter munição de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele."
A decisão de abrir processo contra Traumann partiu do próprio presidente da comissão, Américo Lacombe. O relator Mauro Menezes encaminhou ofício ao jornalista solicitando esclarecimentos sobre o documento da Secom. O ex-ministro terá dez dias para prestar explicações.
Como já deixou o cargo, a única sanção cabível contra Traumann é uma censura ética, que, na prática, funciona como uma espécie de "mancha no currículo". A reportagem não obteve retorno do jornalista.
A próxima reunião da comissão está marcada para 27 de abril.