Aliados viram as costas para ex-colegas presos na operação Lava-Jato

Parlamentares do PT, do PP e do Solidariedade evitam defender Vargas, Corrêa e Argôlo. Petistas ressaltam que paranaense não é mais filiado. Para oposição, prisões "eram esperadas"

Andre Shalders - Correio Braziliense

Ex-deputado federal André Vargas (esquerda) chegou à sede da Policia Federal nesta 6ª - Foto: Albari Rosa/Agencia de Noticias Gazeta do Povo


Deputados do Partido dos Trabalhadores lavaram as mãos em relação à prisão do ex-vice-presidente da Câmara André Vargas (sem partido-PR). Para o líder da bancada petista, Sibá Machado (AC), o partido não tem o que comentar no episódio da prisão de Vargas, uma vez que ele não é mais filiado à legenda. O posicionamento foi repetido por outros parlamentares petistas. Deputados como o relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (RJ); o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE); e o ex-deputado Cândido Vaccarezza (SP), considerados integrantes do círculo mais próximo de Vargas, permaneceram em silêncio. Ao lado de Vargas, foram presos os ex-deputados Luiz Argolo (SD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE). Novamente, nenhuma das duas legendas saiu em defesa dos antigos colegas.

Ao longo de 2014, enquanto Vargas passava por um processo de “fritura” na Câmara, várias lideranças petistas chegaram a dizer publicamente que ele deveria renunciar à vice-presidência. Para tentar salvar o próprio mandato, Vargas acabou se desfiliando do PT, enquanto o partido dava início ao processo de expulsão, por meio da comissão de ética da legenda. Para Sibá, o PT já encerrou o assunto.
“Esse desgaste já ocorreu. Não há mais o que falar sobre isso”, disse. A tese foi repetida pelo deputado Afonso Florence (PT-BA). “Ele já era”, emendou.

Parlamentares que participaram dos processos de cassação de Argolo e de Vargas, por outro lado, viram nas prisões uma confirmação do acerto das decisões tomadas à época – o Conselho de Ética e Decoro da Câmara pediu a cassação de ambos. No caso de Argolo, não foi possível levar o processo ao plenário, uma vez que a legislatura terminou antes.

“Durante as investigações no Conselho de Ética, já tinha ficado claro que ele (Vargas) tinha feito mediações na Caixa Econômica e no Ministério da Saúde. E ele, inclusive, disse que era inocente por não ter nada a ver com o esquema da Petrobras. Realmente, o (doleiro Alberto) Youssef operava para ele em outros locais, não na Petrobras”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que foi o relator da cassação do mandato de Vargas no conselho. Delgado disse ainda que Vargas não deve demorar muito para começar a falar. “Ele tem personalidade frágil. Se ficar 10 dias preso, vai querer falar. Naquela época (da cassação), ele quis falar, mas se segurou. Agora, preso, é tudo diferente.”

SÓ O COMEÇO O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que coordena as investigações, declarou que a operação “ainda está no seu começo” e que outros órgãos serão atingidos. “Essa investigação vai nos levar a mares nunca dantes navegados”, afirmou ele, durante entrevista coletiva sobre a nova fase da Lava-Jato.
“É algo que todos esperavam há muito tempo (chegar a outros órgãos públicos)”, disse o delegado federal Igor Romário de Paula. “Isso não vai ficar circunscrito à Petrobras. É um modelo de negócios que se reproduz pelo Brasil, para a contratação com o poder público.”

A Justiça Federal decretou, ainda ontem, o bloqueio de R$ 40 milhões dos ex-deputados Pedro Corrêa (PP/PE) e Luiz Argôlo (SDD/BA). Também foi ordenado o bloqueio de mais R$ 80 milhões de outros quatro investigados, sendo R$ 20 milhões da secretária de Argôlo, Elia Santos da Hora.

 

.