Apesar de 2015 não ser ano eleitoral no Brasil, a mineira Silvia Capanema, de 35 anos, comemora mais uma vitória nas urnas. Só que a conquista tem sotaque francês. Um ano depois de se eleger vereadora pelo Partido Comunista Francês (PCF) em Saint-Denis, cidade de 110 mil habitantes no subúrbio de Paris, a jornalista, formada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acaba de vencer o pleito para o Conselho Departamental de Seine-Saint-Denis, região que reúne 21 cidades próximas à Cidade da Luz. O cargo não tem correspondência no sistema político brasileiro, mas estaria entre o de vereador e o de deputado estadual. Como a Frente de Esquerda obteve maioria na eleição, Silvia também assumiu, no Executivo, o posto de vice-presidente de Juventude e Luta contra Discriminações, equivalente à posição de secretária da pasta.
Na França, é permitido ter mais de um cargo no Legislativo, e, por isso, a comunista, que mora naquele país desde 2002, quando foi fazer mestrado, continuará exercendo o mandato de vereadora pelos próximos cinco anos. “Não tenho deslumbramento com a função pública. Me sinto muito responsável, pé no chão. Procuro manter uma postura crítica”, afirma. O cotidiano da parlamentar não deixa dúvidas disso. Doutora em história e mãe da pequena Hannah, de 9 meses, Silvia se desdobra entre a maternidade, a atividade política e as aulas de língua e cultura estrangeira na Universidade Paris 13 e de história do Brasil, na Universidade Paris Sorbonne.
Ao contrário de políticos brasileiros que usufruem de uma série de verbas de gabinete e mordomias, a parlamentar francesa tem uma vida modesta. De manhã, leva Hannah, fruto de casamento com franco-brasileiro, para a creche. Depois, em dias de reunião ou plenária, segue de trem ou bonde até a Câmara. Pela atividade como vereadora, recebe ajuda de custo de 240 euros (R$ 840) e não tem direito a contratar um funcionário sequer. Também não conta com gabinete ou auxílios de qualquer natureza. “Tenho uma vida boa, sem regalias”, diz.
Não é raro encontrar a parlamentar panfletando nas ruas de Saint-Denis ou em meio a protestos e manifestações. É por causa dessa atuação mais próxima da população que a vereadora acredita ter tido sucesso nas eleições para o Conselho Departamental, em março. “Sempre estamos nas ruas com o povo, dando atenção às minorias, às lutas feministas e a minorias de imigrantes. Nossas ações são voltadas para a democracia, para repensar a Grande Paris e a fusão das grandes cidades”, explica Silvia, que também atribui à personalidade brasileira uma das razões para sua eleição. “É uma forma de lidar com as coisas sempre buscando alternativas”, diz.
No Conselho Departamental de Seine-Saint-Denis, a parlamentar pretende continuar na mesma linha. A eleição foi disputada em duplas e a brasileira entrou na concorrência com o prefeito de Stains, cidade vizinha, o também comunista Azzédine Taibi. “Foi uma inovação desta eleição a candidatura em binômios de um homem e uma mulher. É para garantir participação igualitária”, conta. Com isso, foram eleitos 42 representantes, 21 mulheres e a outra metade, homens.
Nas novas funções, como vice-presidente da Juventude e Luta contra Discriminações e no Conselho, ela terá remuneração de 3,5 mil euros (R$ 12 mil) e direito a contratar um colaborador, além de um gabinete com computador e tablet. “Acabei de descobrir que vou ter um celular também, serviços de telecomunicações são muito baratos aqui”, comenta, na entrevista que concedeu por telefone ao Estado de Minas. “Trabalho muito, sete dias por semana. Cada dia vejo como é algo importante estar na política, mas também com limitações. Fico feliz em conseguir esse espaço como mulher, mãe e estrangeira”, comenta Silvia.