O ministro da Justiça também evitou fazer comentários sobre a prisão de Vaccari. Segundo ele, a nova fase da Operação Lava-Jato resultou de decisões judiciais, que devem ser respeitadas. Reafirmou, no entanto, esperar que tudo seja devidamente esclarecido. Segundo Cardozo, esse é um desejo de toda a sociedade brasileira. “Espero que todos que praticaram atos ilícitos sejam punidos e que os que não praticaram sejam absolvidos.” O ministro sustenta também que “não há preocupação no governo com a prisão de Vaccari”.
O titular da Defesa, Jaques Wagner, defendeu a atuação de Dilma e procurou descolar a presidente de Vaccari. “É a história da vida dela pessoal, da vida política. Eu acho que tem coisas que não colam mesmo que a oposição queira, porque é transparente a postura dela de conversa”, afirmou, durante evento no Rio de Janeiro. De acordo com ele, qualquer partido político é uma entidade de direito privado e, por isso, Vaccari não faz parte do governo. Mas certamente a prisão do tesoureiro foi considerada ruim. “É mais uma pedra nessa escadaria de desgaste que atinge o PT e que, de alguma maneira, tem algum tipo de reflexo no governo, que é do partido”, disse um dos interlocutores da presidente Dilma.
APARÊNCIAS Apesar da aparente calma do governo, não há como negar que a cúpula do PT foi pega de surpresa com a prisão de Vaccari, ocorrida em São Paulo, às 6h. O presidente do partido, Rui Falcão, não perdeu tempo e deixou Brasília, embarcando para a capital paulista, antes mesmo de ter conhecimento das razões da prisão. No entanto, integrantes do PT que defendiam o afastamento do tesoureiro lamentaram não terem adotado a medida na semana passada, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou sua objeção à saída do petista.
Com a transferência de Vaccari para Curitiba, ainda ontem, Falcão se reuniu com o ex-presidente petista para discutir essa nova crise no partido e também com outras lideranças. Com as bênçãos de Lula, no final da tarde, o PT decidiu pelo afastamento de Vaccari da contabilidade do partido. Mas a discussão dentro da legenda não vai terminar por aí. Hoje está marcada uma reunião, em Brasília, com a cúpula petista para reorganização da estrutura partidária, já que não existem nomes dispostos a assumir a desgastante função de tesoureiro.
Após a reunião com Lula, Falcão, soltou nota em que mantém o discurso de “confiança na inocência de João Vaccari Neto”. Falcão classifica como “injustificada” e “desnecessária” a prisão de Vaccari e informa que os advogados do tesoureiro estão apresentando um pedido de habeas corpus. “Fomos surpreendidos com esse mandado de prisão preventiva que foi cumprido nessa manhã.
Além do constrangimento, a prisão de Vaccari prejudica a estratégia de reação do partido às denúncias de corrupção, cujo ponto de partida seriam as reuniões da executiva e do diretório nacional hoje e amanhã, em São Paulo, e a realização do primeiro debate preparatório para a segunda etapa do 5ª Congresso Nacional do PT, marcado para junho, em Salvador. Para isso, o partido pretendia proibir as doações de empresas privadas para suas campanhas. Isso tudo planejado para acontecer no momento em que as manifestações populares contra o governo e o PT sofreram uma retração.
DESCONFIADO A defesa mais efusiva de Vaccari partiu apenas do líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), que considerou a medida contra o petista como uma “prisão política. “Vaccari não fez nenhum tipo de arrecadação fora do que determina a legislação brasileira. Estamos extremamente desconfiados de que existe uma orientação deliberada nessas delações premiadas para prejudicar o Partido dos Trabalhadores”, defendeu o líder. Ainda segundo Machado, “quem quer dizer que PT pegou dinheiro de corrupção também pegou”. “Os partidos com poucas inserções recebem dinheiro das empresas que hoje estão sendo investigadas na Lava-Jato. De papel passado, de recibo aprovado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”.
Com Marcella Fernandes e agências.