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Estado de Minas

Planalto tenta blindar Dilma de desgastes com a prisão de Vaccari

Vice-presidente, responsável pela articulação política do governo, disse que a prisão do ex-tesoureiro do PT "não tem nenhuma conexão com o governo"


postado em 16/04/2015 06:00 / atualizado em 16/04/2015 09:59

"Isso não tem nenhuma conexão com o governo" - Michel Temer (PMDB), vice-presidente (foto: Joedson Alves/Reuters 23/7/14)
O governo lavou as mãos depois da prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em mais uma etapa da Operação Lava-Jato. O vice-presidente, Michel Temer, responsável pela articulação política do Planalto, se resumiu a dizer que era uma “questão de Justiça” e completou: “Isso não tem nenhuma conexão com o governo”. Rezando na mesma cartilha, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que informou à presidente Dilma Rousseff sobre a prisão do petista pela manhã, logo depois de ser comunicado pelo diretor do Departamento do Polícia Federal, delegado Leandro Daiello. Cardozo se recusou a comentar a reação de Dilma e desconversou: “Ela foi apenas informada”.

O ministro da Justiça também evitou fazer comentários sobre a prisão de Vaccari. Segundo ele, a nova fase da Operação Lava-Jato resultou de decisões judiciais, que devem ser respeitadas. Reafirmou, no entanto, esperar que tudo seja devidamente esclarecido. Segundo Cardozo, esse é um desejo de toda a sociedade brasileira. “Espero que todos que praticaram atos ilícitos sejam punidos e que os que não praticaram sejam absolvidos.” O ministro sustenta também que “não há preocupação no governo com a prisão de Vaccari”.

O titular da Defesa, Jaques Wagner, defendeu a atuação de Dilma e procurou descolar a presidente de Vaccari. “É a história da vida dela pessoal, da vida política. Eu acho que tem coisas que não colam mesmo que a oposição queira, porque é transparente a postura dela de conversa”, afirmou, durante evento no Rio de Janeiro. De acordo com ele, qualquer partido político é uma entidade de direito privado e, por isso, Vaccari não faz parte do governo. Mas certamente a prisão do tesoureiro foi considerada ruim. “É mais uma pedra nessa escadaria de desgaste que atinge o PT e que, de alguma maneira, tem algum tipo de reflexo no governo, que é do partido”, disse um dos interlocutores da presidente Dilma.

APARÊNCIAS Apesar da aparente calma do governo, não há como negar que a cúpula do PT foi pega de surpresa com a prisão de Vaccari, ocorrida em São Paulo, às 6h. O presidente do partido, Rui Falcão, não perdeu tempo e deixou Brasília, embarcando para a capital paulista, antes mesmo de ter conhecimento das razões da prisão. No entanto, integrantes do PT que defendiam o afastamento do tesoureiro lamentaram não terem adotado a medida na semana passada, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou sua objeção à saída do petista.

Com a transferência de Vaccari para Curitiba, ainda ontem, Falcão se reuniu com o ex-presidente petista para discutir essa nova crise no partido e também com outras lideranças. Com as bênçãos de Lula, no final da tarde, o PT decidiu pelo afastamento de Vaccari da contabilidade do partido. Mas a discussão dentro da legenda não vai terminar por aí. Hoje está marcada uma reunião, em Brasília, com a cúpula petista para reorganização da estrutura partidária, já que não existem nomes dispostos a assumir a desgastante função de tesoureiro.

Após a reunião com Lula, Falcão, soltou nota em que mantém o discurso de “confiança na inocência de João Vaccari Neto”. Falcão classifica como “injustificada” e “desnecessária” a prisão de Vaccari e informa que os advogados do tesoureiro estão apresentando um pedido de habeas corpus. “Fomos surpreendidos com esse mandado de prisão preventiva que foi cumprido nessa manhã. Não sabemos ainda as razões da decretação”, afirmou O criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, que defende Vaccari. D’Urso disse que considera “muito estranha a decretação dessa prisão preventiva uma vez que já há denúncia no processo que corre no Paraná” – o tesoureiro do PT já é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.

Além do constrangimento, a prisão de Vaccari prejudica a estratégia de reação do partido às denúncias de corrupção, cujo ponto de partida seriam as reuniões da executiva e do diretório nacional hoje e amanhã, em São Paulo, e a realização do primeiro debate preparatório para a segunda etapa do 5ª Congresso Nacional do PT, marcado para junho, em Salvador. Para isso, o partido pretendia proibir as doações de empresas privadas para suas campanhas. Isso tudo planejado para acontecer no momento em que as manifestações populares contra o governo e o PT sofreram uma retração.

DESCONFIADO A defesa mais efusiva de Vaccari partiu apenas do líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), que considerou a medida contra o petista como uma “prisão política. “Vaccari não fez nenhum tipo de arrecadação fora do que determina a legislação brasileira. Estamos extremamente desconfiados de que existe uma orientação deliberada nessas delações premiadas para prejudicar o Partido dos Trabalhadores”, defendeu o líder. Ainda segundo Machado, “quem quer dizer que PT pegou dinheiro de corrupção também pegou”. “Os partidos com poucas inserções recebem dinheiro das empresas que hoje estão sendo investigadas na Lava-Jato. De papel passado, de recibo aprovado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”.

Com Marcella Fernandes e agências


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