Brasília, 17 - Preterido pela presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro do Turismo Vinícius Lages considera que a concessão de mais espaços para integrantes do grupo do PMDB da Câmara na Esplanada não garantirá vitórias do governo no Congresso Nacional. Para Lages, o processo de negociação entre a base aliada e o Executivo deverá passar por momentos de "muita emoção".
Apadrinhado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Lages ficou no comando da pasta do Turismo por pouco mais de um ano e foi substituído nessa quinta-feira, 16, pelo ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O ex-deputado integra o grupo do vice-presidente da República, Michel Temer, e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Prefiro não opinar. Mas o processo é dinâmico. Mesmo com quem é contemplado não se assegura um 7 a 1, uma goleada. É um coisa que já estava claro para muitos. Não é porque você tem essa recomposição da chamada cota da Câmara, que você tem assegurado, que não vai ter um processo no mínimo com muitas emoções. Então, talvez esse seja o problema", afirmou Vinícius Lages em entrevista ao Estado.
O ex-ministro esteve no gabinete da presidência do Senado ontem, onde passará a despachar a partir de agora. Segundo ele, na última conversa com a presidente Dilma antes de deixar o governo, foram oferecidos diversos cargos de destaque no segundo escalão como forma de tentar amenizar os atritos gerados com Renan Calheiros. "Na conversa com ela, nas opções que ela me deu, são cargos de envergadura muito grande, de responsabilidade até maior, como Eletrobras, Chesf, Codevasf, Conab e Correios. São gigantes, mas não era um projeto do senador Renan fazer uma barganha ou entrar num processo de troca de posição", afirmou. Questionado se a recusa também não poderia ser entendida um sinal do desgaste na relação entre o presidente do Senado e a presidente Dilma, Lages respondeu: "Olha, de toda maneira você pode entender que sim".
O ex-ministro não quis, entretanto, opinar se houve falta de habilidade por parte do governo na condução da sua saída. Nas contas dele, nos últimos dois meses, ao menos "nove vezes" foi publicada pela imprensa a possibilidade de queda. "A minha posição era de que vou trabalhar. Tinham sinais dela em dezembro e janeiro na reunião ministerial de elogio ao meu trabalho, então decidi pisar firme e se tivesse que acontecer não seria por falta de trabalho", ressaltou. "Não há dúvida que foi um embate de titãs... ela queria a minha permanência.Mas ela sabia que tinha uma ação do PMDB. Ela podia arbitra, sem dúvida, claro, ela é a presidente da República, ela manda. Mas tinha uma tensão e essa tensão foi bater lá na nossa pasta", lamentou.