Na delação, o ex-deputado assina uma espécie de “contrato” sobre os temas que revelará e obtém a promessa por escrito de que o Ministério Público Federal pedirá ao juiz uma redução da pena. No entanto, se optar simplesmente por uma colaboração espontânea, seria nos moldes da que foi feita pelo vice-presidente da Engevix, Gérson Almada. Ao pedir para prestar depoimento, o empreiteiro, por exemplo, revelou suas ligações com operadores do esquema e com o ex-ministro José Dirceu. Almada afirmou que deu dinheiro para o operador Milton Pascowith entregar a funcionários da Petrobras e do PT, como o tesoureiro licenciado, João Vaccari. Na sequência, pediu liberdade ao juiz Sérgio Moro, mas, até o momento, o executivo continua preso.
Na quinta-feira, Vargas prestou seu primeiro depoimento no prédio da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no Paraná, no entanto, optou não dizer nada.
Na Lava-Jato, Quadrado foi preso em novembro. Mas, antes mesmo disso, já tinha resolvido falar na operação. Ainda no primeiro semestre, revelou ter emprestado dinheiro ao doleiro Alberto Youssef para a compra de um Porsche Cayenne. Informou a que se referia um comprovante de pagamento de R$ 19 mil apreendido com o doleiro: dívida de impostos com operações em bolsa. Orientado por Nicole, o corretor concordou em dizer o que sabia. Em novembro, menos de quatro dias depois da prisão, Quadrado prestava outro depoimento à PF, que o considerou relevante. Hoje, ele já está fora da cadeia. É justamente isso que estimula André Vargas a contar à Justiça tudo o que sabe.
Silêncio
Para os investigadores, uma colaboração de Vargas pode evitar que ele seja o único culpado no esquema de desvios de dinheiro da Petrobras ou de lavagem por meio do doleiro Alberto Youssef. No caso de uma delação premiada, poderia revelar fatos e suspeitas que não estão sob investigação ainda. Uma colaboração espontânea ajudaria a esclarecer atos já apurados pelos nove procuradores da força-tarefa do Ministério Público e pelos seis delegados da Polícia Federal que atuam no caso.
A advogada Nicole não retornou os pedidos de esclarecimentos feitos pela reportagem por escrito e por telefone ontem. Amigo do ex-deputado, o advogado João Gomes Filho disse ao Correio que foi uma opção do próprio Vargas permanecer em silêncio durante o primeiro depoimento. Ele narrou que foi atender a um cliente na carceragem da PF nos últimos dias e cumprimentou o ex-parlamentar. Moradores de Londrina, os dois são amigos há 20 anos. “Ele levantou o punho, em um gesto de resistência. Eu bati no peito”, narrou Gomes.
Vargas é suspeito de receber dinheiro por meio de duas empresas fantasmas. A LSI e a Limiar já foram registradas em nome dele e hoje estão oficialmente na mão de seus irmãos, León e Milton Vargas. A Procuradoria-Geral da República sustenta que o ex-deputado é o controlador das contas das firmas, apontadas como de fachada. Só uma teve um único funcionário, registrado por curto período de tempo.
Mesmo assim, receberam dinheiro de empresas vinculadas ao Ministério da Saúde, à Caixa, do frigorífico JBS S/A e também da concessionária de rodovias Ecovias. Na Saúde, a agência de publicidade Borghi Lowe recebeu R$ 126 milhões para serviços de comunicação, subcontratando produtoras.
Na Caixa, onde Vargas indicou o gerente de marketing Clauir Santos, a IT7 Sistemas recebeu R$ 50 milhões só em 2013. Procurado desde a semana passada, o banco nunca informou o valor total dos contratos. Desse valor, pelo menos R$ 2,3 milhões foram parar nas mãos dos irmãos Vargas, segundo o Ministério Público. Notas fiscais frias foram emitidas pelo escritório de contabilidade de Meire Poza, que trabalhava para Youssef, contra a IT7.
A IT7 ainda tem contratos no Serpro, do Ministério da Fazenda, cujo presidente, Marcos Mazoni, trabalhou com Vargas no governo do Paraná. Ele nega ter sido indicado pelo ex-deputado para o cargo..