Pagar propina era fácil, diz executivo de empreiteira

Jorge Macedo - especial para o EM
Naira Trindade

Curitiba – Um mecanismo de avaliação flexível de preços da Petrobras facilitava o pagamento de propinas nos contratos superfaturados da estatal, de acordo com o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite.

Em depoimento prestado sob a condição de delação premiada, ele comentou o fato de a petroleira aceitar uma variação de até 20% nos custos estimados dos projetos. Dentro dessa margem, eram embutidas propinas de 1% a 2%, segundo afirmou à Polícia Federal em depoimentos prestados em março, que foram entregues na noite de sexta-feira à 13ª Vara Federal de Curitiba.


“Era fácil, porque, em primeiro lugar, os volumes dos contratos junto à Petrobras eram significativos, de muitos milhões ou bilhões de reais”, disse ele, em uma das oitivas. Segundo Leite, quando o contrato era com a Diretoria de Engenharia da estatal, comandada por Renato Duque, ligado ao PT, a propina era de 1%. Já na de Abastecimento, dirigida por Paulo Roberto Costa, da cota do PP, era preciso pagar mais um 1%.


Leite disse que a Camargo pagou R$ 110 milhões em propina apenas num período de cinco anos, entre 2006 e 2012. E o valor pode ser maior, porque ele, que é funcionário da empresa desde 1994, não sabe se isso ocorreu anteriormente. O volume de subornos chegou a R$ 63 milhões na Diretoria de Engenharia e a R$ 47 milhões na de Abastecimento. Ele entregou uma planilha com os pagamentos da corrupção.

Disse que, da diretoria-executiva até a presidência da empreiteira, todos tinham conhecimento dos pagamentos de propina.


A corrupção já fazia parte do dia a dia da empresa e era embutida nos custos das obras. Fazia parte do negócio. O presidente da empreiteira, Dalton Avancini, confirmou a informação em outro depoimento em delação premiada. A Camargo usava falsos serviços de consultoria do operador Júlio Camargo para mascarar os pagamentos. Avancini questionou o então diretor Leonel Viana sobre o motivo desses gastos. “O pagamento dessa propina ‘fazia parte do jogo’”, disse Viana, de acordo com o depoimento do presidente da empresa, prestado em 10 de março.


Leite diz que os diretores é quem cuidavam desse assunto, e não os acionistas. “A propina não era um tema tratado pelos acionistas, e sim um custo para a construtora”, afirmou em 13 de março. “A propina era contabilizada como custo da Camargo Correa no fechamento da proposta, sendo que esse custo era absorvido pelos recebimentos que a construtora obtinha da Petrobras, pois estava tudo embutido na proposta”, detalhou Leite em 6 de março. Se não pagassem os subornos, haveria problemas.

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