Para MP, André Vargas e o irmão não tinham condições de prestar consultoria

Para procuradores que integram a força-tarefa da Operação Lava-Jato, gráficas de ex-deputado eram usadas apenas para receber recursos desviados de órgãos públicos

Eduardo Militão
- Foto: Leonardo Prado/ Câmara dos Deputados

Curitiba
– As consultorias realizadas por empresas controladas pelo ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR) não existiram, na avaliação do Ministério Público. Segundo o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, não é possível crer que o político e seu irmão Leon Vargas estejam habilitados para fazer esse tipo de trabalho. Ele ainda adiantou que a atuação do ex-parlamentar e do ex-tesoureiro do PT João Vaccari vai abrir uma linha de apuração específica sobre corrupção por meio de gráficas. “Quem conhece e quem ouviu os depoimentos até agora não acredita que os dois, o André Vargas e o Leon Vargas, tenham condições de prestar qualquer tipo de assessoria”, disse Carlos Fernando dos Santos, que é coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato. “Não acreditamos nisso.”


A Polícia Federal e o MPF sustentam que os irmãos Vargas criaram duas empresas de fachada para receber dinheiro desviado de órgãos públicos: a LSI Solução em Serviços Empresariais Ltda, de São Paulo, e a Limiar Consultoria e Assessoria em Comunicação Ltda, de Curitiba. Parte dos recursos chegou por meio de agências de publicidade. Além disso, na ordem de prisão do ex-deputado, o juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Fernando Moro, destacou que as firmas receberam dinheiro para outras duas empresas que mantêm contratos públicos, o frigorífico JBS S/A e a concessionária Ecovias, pertencente à construtora CR Almeida.

Procurada pela reportagem, a Ecovias disse que a LSI fez serviços de “consultoria em seleção e colocação de mão de obra”. Foram pagos R$ 46.925 líquidos em 9 de fevereiro de 2012.

A JBS, que já havia pago dinheiro a uma empresa envolvida no esquema em outra ocasião, não explicou a que se referiam os pagamentos mencionados por Sérgio Moro. Mas, para Carlos Fernando, não é possível acreditar na argumentação da Ecovias. “Creio que as defesas dessas empresas devem pensar muito bem a respeito dos fatos e esclarecer a realidade.”

Apesar disso, o juiz Sérgio Moro foi cauteloso ao mencionar os pagamentos das firmas de Vargas à JBS e à Ecovias. “Quanto a esse ponto, é necessário aprofundar as investigações, não sendo possível afirmar por ora que eram destituídos de causa lícita”, disse ele, ao decretar a prisão do ex-deputado do PT. Procuradas novamente pelo jornal, Ecovias e JBS não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.

Gráficas O procurador Carlos Fernando afirmou que o Ministério Público disse que vai abrir uma frente de apuração específica sobre gráficas para identificar a atuação de Vargas supostamente no mercado de comunicação. Outro motivo para essa investigação é que o executivo e delator da Lava-Jato Augusto Mendonça disse que o então tesoureiro do PT João Vaccari mandou que ele enviasse dinheiro para a gráfica Atitude, ligada ao partido e à CUT. Foram pagos R$ 1,5 milhão, valores que saíram da taxa de propina de contratos da Setal com a Petrobras.

Por enquanto não há uma apuração específica em cima da Atitude. “Mas, diante do esquema de corrupção do (André) Vargas, sabemos que as gráficas são um dos pontos mais fáceis de serem manipulados nesses esquemas de desvios de recursos”, disse Lima. “Vão ser analisadas as operações com gráficas”. Como mostrou o Estado de Minas ontem, o procurador entende que os pagamentos feitos por Mendonça à Atitude se somam a indícios de corrupção e já permitem a condenação de Vaccari. Para expandir essa apuração a várias gráficas, porém, o trabalho será mais difícil. “O problema é que se contratam 100 mil panfletos e se produzem 10 mil”, exemplificou o procurador. “Como se prova que os 90 mil não foram produzidos?”, questionou.
A ideia é focar em quem atestou o recebimento das publicações.

A advogada de Vargas, Nicole Trauczinski, não retornou os pedidos de esclarecimentos do jornal feitos desde sexta-feira. Assim como a Caixa e o Ministério da Saúde, a agência Borghi diz que colabora com as investigações, e seu presidente, José Borghi, nega participação em ilícitos. A IT7 não foi localizada. O petista Marcos Mazoni diz que foi indicado para a presidência do Serpro pelo ex-ministro Nelson Machado, e não por Vargas e negou irregularidades em seu órgão.

Relações suspeitas de Vargas

LSI e Limiar são empresas de fachada do ex-deputado segundo os investigadores

»LT7
A LSI e Limiar receberam dinheiro da IT7 Sistemas Ltda. por meio de operações de lavagem, segundo a PF. A empresa tem contratos com o Ministério da Saúde e a Caixa, cujo diretor de marketing, Clauir Santos, foi indicado por Vargas. Caixa pagou R$ 50 milhões à IT7 apenas em 2013.

» Borghi
PF diz que Borghi repassou dinheiro recebido do Ministério da Saúde para a LSI e a Limiar por meio de produtoras de filmes subcontratadas. A pasta pagou R$ 126,7 milhões à Borghi entre 2011 e 2015. O ex-vice-presidente da agência, Ricardo Hoffman, foi preso.

» Serpro
O Serpro não é investigado pela Lava-Jato, mas tem contratos com a IT7 sob análise da Procuradoria da República do Distrito Federal. A IT7 recebeu R$ 52,6 milhões entre 2010 e 2015.
O presidente do órgão, Marcos Mazoni, trabalhou com Vargas no governo do Paraná.

.