Camargo disse à PF que conheceu o petista em uma festa de aniversário do ex-ministro, quando ele já tinha deixado a Casa Civil. O convite foi feito por um amigo em comum. Os dois tiveram mais de 20 encontros, segundo os relatos de Camargo, a maioria no escritório ou residência de Dirceu.
No novo depoimento, Julio Camargo afirma que tinha meios de dar suporte financeiro à Petrobras, mas em contrapartida a estatal deveria celebrar contrato com um consórcio do qual a Toyo fazia parte. Diante da sinalização de mudança da Petrobras desse modelo de negócio, o executivo teria buscado ajuda de Dirceu. O ex-ministro disse, segundo o relato de Camargo, "ter feito gestão junto a Gabrielli no sentido de entender por qual razão a Petrobras havia mudado a sistemática".
Ele declara que doou valores ao PT, mas destaca que nunca ofereceu vantagens "devidas ou indevidas" a José Dirceu. O executivo lembra de ter dado apenas um uísque e um vinho ao ex-ministro, o último como presente em um aniversário. Apesar disso, Camargo diz ter autorizado viagens de Dirceu em seu avião em "várias oportunidades", mas não se lembra de o petista ter feito menção a ninguém da Petrobras nas viagens.
Ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Gabrielli disse não se lembrar de nenhuma discussão geral sobre modelo de contratação da Toyo.
O advogado de José Dirceu nas investigações relativas à Lava Jato, Roberto Podval, afirmou que o depoimento de Camargo aponta que nenhum negócio foi firmado. Podval diz ainda "não ver ilicitude" no caso, vez que Dirceu não estava mais no governo e possui empresa de consultoria.
Venezuela
Dirceu e o executivo da Toyo também conversaram sobre Venezuela, segundo o delator. A Toyo enfrentava problemas na execução de contratos no País e Dirceu chegou a sinalizar que "conseguiria uma entrada" de Camargo com o presidente da PDVSA, estatal venezuelana responsável pela exploração de petróleo, de acordo com o depoimento. O executivo não teve autorização da Toyo para continuar com a negociação, conforme a delação.
Cunha
O executivo da Toyo relata ainda ter se encontrado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em duas ocasiões. Os dois trataram sobre questões do setor portuário. Na época, estava em tramitação no Congresso a medida provisória conhecida como MP dos portos, que regulamentou o setor. Cunha teria perguntado a Camargo se haveria disponibilidade de a Toyo, por meio de banco japonês, conseguir financiamento para projetos de investimentos nos portos.
O peemedebista teria prometido "fazer gestões" para a contratação da Toyo caso o financiamento fosse obtido. As conversas cessaram depois que Camargo afirmou que não conseguiria obter o financiamento.
Cunha disse ao
Broadcast
ter sido procurado por diversas pessoas na época da tramitação da MP dos Portos. Uma delas poderia ter sido Camargo, segundo o presidente da Câmara. Ele destaca que o executivo queria investir e a nova legislação previa investimentos privados em áreas externas dos portos.
O depoimento de Julio Camargo foi uma das diligências solicitadas pela Procuradoria-Geral da República no inquérito que investiga o senador Edison Lobão (PMDB). O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em delação premiada que recebeu do parlamentar a solicitação da entrega de R$ 1 milhão.