Pimentel usa discurso do 21 de abril para criticar opositores de Dilma

Sem fazer referências aos dias de hoje, Pimentel lembra a história de Tiradentes para criticar o que chamou de 'conveniência política momentânea e desequilibrada', que provoca injustiças

Jorge Macedo - especial para o EM
Flávia Ayer, Isabella Souto e Juliana Cipriani
Enviadas especiais


"Antes de tudo, acima de tudo, estamos aqui homenageando um injustiçado. Um brasileiro, um mineiro, que foi vítima da opressão, da mão pesada e cruel daqueles que - deixando a justiça de lado - praticaram a violência sob a capa da legalidade", Fernando Pimentel (PT), governador - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Ouro Preto – O governador Fernando Pimentel (PT) usou o discurso na cerimônia do 21 de abril, nessa terça-feira, em Ouro Preto, para o que pode ser entendido também como uma defesa da presidente Dilma Rousseff (PT). Diante do contexto atual, as palavras dele sobre Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira, soaram como metáfora em defesa da sua companheira de partido – alvo de protestos populares e de opositores que pedem o seu impeachment. O petista alertou para o perigo de se cometer uma injustiça em nome da “conveniência política”. Ao longo de todo o seu discurso, ele foi vaiado pelos manifestantes na Praça Tiradentes.

“A conveniência política – momentânea, apaixonada, desequilibrada, viciada pelos impulsos mesquinhos – não patrocina a justiça. Ao contrário, é a irmã do arbítrio e a mãe da injustiça. Tiradentes é exemplo disso”, afirmou. Pimentel pediu que o público pensasse na dimensão humana de Tiradentes. “Antes de tudo, acima de tudo, estamos aqui homenageando um injustiçado.

Um brasileiro, um mineiro, que foi vítima da opressão, da mão pesada e cruel daqueles que – deixando a justiça de lado – praticaram a violência sob a capa da legalidade”, afirmou.

Ao falar da forma como Tiradentes foi julgado, morto e “submetido ao bisonho teatro das conveniências políticas de então”, o petista ressaltou que a história transformou o réu em mártir. “Os justiceiros passam, mas a injustiça é para sempre. Alguém se lembra do nome do executor da sentença contra Tiradentes?”, questionou, emendando que quem vive até hoje na memória popular é o réu. “Tiradentes, o herói nacional, terminou a vida no cadafalso, mas permanece vivo na memória. Seus acusadores pereceram no esquecimento e são nota de pé de página no livro da história”, completou.

Apesar de ter sido o principal homenageado, o ministro Ricardo Lewandowski não discursou na cerimônia - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
Um dos principais aliados de Dilma, o governador de Minas fez o discurso em meio a vários protestos contra a política da presidente e quando parte da oposição começa a falar em retirá-la do poder. Nos dias 15 de março e 12 de abril, milhares de brasileiros foram às ruas se manifestar contra o governo da petista e a corrupção. Na entrevista depois da cerimônia, Pimentel negou que o discurso tenha sido inspirado na companheira de partido – Dilma, aliás, chegou a ser convidada a participar mas, segundo a assessoria do governo, não pôde comparecer por “motivo de agenda”.

Apesar da negativa, ao ser questionado sobre um eventual pedido de impeachment da petista, Pimentel saiu em defesa de Dilma usando como exemplo o mártir da Inconfidência . “Não tem cabimento, não tem fundamento jurídico. Nós estamos comemorando Tiradentes. Fiz questão de lembrar o exemplo histórico. Vamos perseguir a liberdade através da justiça serena, segura e isenta”, finalizou.

Pimentel exaltou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, que recebeu a maior honraria da cerimônia, o Grande Colar. No julgamento do mensalão, o ministro teve embates memoráveis com o então presidente do STF, o ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, e votou contra a condenação de petistas, como o ex-ministro José Dirceu.
“O ministro Lewandowski já se mostrou fiel à mais sublime e nobre missão de um magistrado: ter a coragem de ir contra os aparentes consensos, guiado apenas pela solitária e genuína convicção da inocência ou da culpa, mas sem se deixar intimidar pelos clamores de um, de outro, ou de qualquer lado”, afirmou Pimentel.

Tradicionalmente, o homenageado com o Grande Colar é quem ocupa a posição de orador na cerimônia. Segundo Pimentel, o ministro abriu mão desse papel. Lewandowski não deu entrevista.

 

Stédile critica Dilma

Um dos homenageados mais controversos nessa terça-feira na cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, o presidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, não poupou críticas à presidente Dilma Rousseff (PT). Minutos depois de ser agraciado pelo governador Fernando Pimentel (PT), ele disse que o mineiro acerta, mas a “tia Dilma erra muito”, e criticou a “política burra” do superávit primário. Ainda assim, afirmou que o movimento está disposto a ir às ruas contra o que chamou de “um possível golpe”. Para Stédile, Dilma errou ao nomear para ministro da Fazenda Joaquim Levy, a quem considera um “infiltrado” dos banqueiros. Ele também criticou o ajuste fiscal anunciado pela petista. Segundo ele, as medidas foram neoliberais e contra os trabalhadores. “O governo tem que abandonar essa política burra do superávit primário. Primeiro tem que garantir dinheiro público para os investimentos na educação, saúde e reforma agrária e o que sobra botar para o pagamento de juros da dívida”, afirmou.

Segundo Stédile, o governo está fazendo exatamente o contrário. Sobre as muitas críticas que sofreu nas redes sociais por ser homenageado com a medalha, Stédile disse não se sentir molestado. “Faz parte da democracia. Cada um pode opinar sobre qualquer coisa, sobre futebol, samba, comida mineira e a medalha da Inconfidência”, afirmou.

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