São Paulo - Na primeira entrevista após a conturbada saída do Ministério da Educação (MEC), o ex-ministro Cid Gomes (Pros) avaliou que o Brasil vive hoje uma espécie de "presidencialismo parlamentar", com um Congresso com "muito pouco" compromisso com a governabilidade e um governo cada vez mais dependente do PMDB.
Diante desse cenário, Cid Gomes prevê que a presidente Dilma Rousseff enfrentará muita dificuldade para aprovar o ajuste fiscal. "Vivemos hoje um presidencialismo parlamentar, com um Congresso que tem muito pouco compromisso com os reais problemas do País", afirmou, em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Segundo Cid Gomes, a ida do vice-presidente Michel Temer para a articulação política do Planalto, no lugar do ex-ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas (PT), mostra a força do PMDB e a dependência do governo em relação ao partido, que também detém as presidências do Senado, com Renan Calheiros (AL), e da Câmara, com Eduardo Cunha (RJ).
Para o ex-ministro da Educação, deputados e senadores têm aprovado uma série de propostas na "contramão" do ajuste fiscal, o que deverá tornar a aprovação do ajuste no Legislativo uma tarefa difícil para o governo Dilma. "Hoje é absolutamente consensual no Brasil a necessidade de se equacionar o Orçamento, e o Parlamento, como regra, trabalha na contramão porque não tem compromisso com a governabilidade", afirmou. "O Parlamento é um antipoder", acrescentou.
Na avaliação de Gomes, a crise vivida hoje pelo governo é reflexo, sobretudo, do modelo político brasileiro, em que o Executivo depende muito do Parlamento para conseguir governar. "Se o Brasil vivesse o parlamentarismo, o Parlamento governaria com a responsabilidade para o bem ou para o mal. Como não é assim, o Parlamento não se sente responsável. Quer tomar parte do governo para si", afirmou. Conforme o ex-ministro da Educação, as propostas de reforma política apresentadas até agora não atacam essa questão.
Entrega do cargo
O ex-ministro contou que já previa que teria de deixar o cargo quando foi à Câmara, após ser convocado para prestar esclarecimentos sobre a declaração de que, na Casa, havia "400, 300 achacadores". No depoimento, Cid Gomes manteve a afirmação. "Eu sabia que ou eu desmentia o que disse ou deixaria o cargo. As duas coisas eram incompatíveis", disse. Cid Gomes lembrou que, logo após o incidente, foi ao Palácio do Planalto e entregou o cargo. Desde então, disse que não conversou mais com Dilma. O ex-ministro evitou tecer comentários sobre o novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. "Conheço muito pouco", declarou.
Após a quarentena exigida ao deixar o cargo público, o ex-governador cearense deve ir trabalhar no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nos Estados Unidos, a partir do segundo semestre, como planejava após deixar o governo do Ceará, no ano passado. Ele ressaltou que essa é uma das possibilidades, mas ponderou que ainda não bateu martelo.
Perguntado sobre o futuro político, Cid Gomes declarou que não será candidato nas eleições de 2016, mas atuará nos bastidores para "ajudar amigos". O político avalia que a saída dele do MEC não deverá influenciar a relação do PROS com o governo Dilma. "Não creio que deve atrapalhar", disse. Indagado se seu grupo político continuará no partido, o ex-ministro limitou-se a dizer que "oportunamente" conversará com o presidente da sigla, Eurípedes Júnior, sobre o "futuro".