Vereadores de BH compram mexerica, croissant e coxinha com verba indenizatória

Levantamento inédito da Câmara de BH revela itens comprados com verba indenizatória para vereadores e assessores. A lista vai orientar as licitações que substituirão o bônus

Flávia Ayer
Um quilo de frango, mexerica, biscoito recheado, croissant, coxinha, bolo e queijo-minas.
O que pode parecer a lista de supermercado da casa de um cidadão comum é, na verdade, a relação de itens comprados pelos vereadores em 2014 com a verba indenizatória – benefício de R$ 15 mil destinado a despesas em geral do mandato. Levantamento da Câmara Municipal identificou tudo que é consumido e usado pelos parlamentares e seus assessores, desde o cardápio (bastante variado, aliás) até a gasolina, serviços gráficos e material de escritório.

O trabalho inédito, ao qual o Estado de Minas teve acesso, revelou o consumo de itens, no mínimo, curiosos, como oito quilos de bombocado, 12 quilos de broinha de canjica, cinco rolos de barbante, 10.462 canetas e sete quilos de elástico amarelo. O raio-x será usado como parâmetro para a elaboração das licitações conjuntas que substituirão a verba indenizatória e começam a ser publicadas a partir do mês que vem.

Ano passado, vereadores, que tinham autonomia para comprar materiais e contratar serviços, receberam R$ 5,5 milhões de ressarcimento com a verba indenizatória. Apesar de saber o quanto foi gasto, até então, nenhum estudo da Casa Legislativa havia detalhado e apontado a quantidade exata de todos os itens adquiridos pelos parlamentares. Eles dizem respeito a 39 gabinetes, pois dois vereadores abriram mão do uso da verba.

Os 6.186.427 exemplares de jornais divulgando as ações do mandato – quase um quarto da tiragem anual do EM – lideram a lista de materiais dos gabinetes. Também foram o elemento que mais pesou nos gastos da verba indenizatória, consumindo um total de R$ 1,3 milhão, no ano passado. O trabalho também aponta que, em 2014, parlamentares contrataram serviço para envio de 2,5 milhões de mensagens eletrônicas (e-mail e SMS), média de 7 mil por dia, além da produção de 1,8 milhão de peças gráficas, um terço delas cartão de visita.

“Estamos passando um pente-fino nos itens, pois alguns não justificam ser licitados porque foram pouco usados”, afirma o diretor de administração e finanças da Câmara, Guilherme Avelar, à frente da comissão especial de transição para as licitações.
Para se ter uma ideia, o levantamento identificou 10 marcas diferentes de canetas, 42 modelos de envelope e 31 tipos de cartuchos de impressora.

Somente objetos de material de escritório somam 258 elementos. “Vamos refinar a lista de itens a serem licitados e apresentar esse levantamento à comissão política (formada por parlamentares) na semana que vem”, reforça Guilherme. Segundo o diretor, as primeiras concorrências serão para contratar serviço postal e transporte (gasolina e aluguel de carro). No ano passado, vereadores enviaram 560 mil correspondências e consumiram 213 mil litros de gasolina – o suficiente para dar 183 voltas na Terra.

COMIDA

Embora tenham sido mensuradas pela Câmara, despesas com lanche e refeição não serão mais bancadas no novo modelo. A decisão foi anunciada pelo presidente da Câmara, vereador Wellington Magalhães (PTN), assim que a extinção da verba indenizatória foi votada, no mês passado. “Com tantas opções, seria impossível chegarmos a um cardápio comum entre os gabinetes”, reforça Guilherme.

Na despensa dos gabinetes, há quitutes para todos os gostos. Ao longo de 2014, foram comprados, por exemplo, duzentos brigadeiros, duzentas coxinhas (iguaria que já protagonizou polêmica na Câmara), 13 quilos de croissant, 1 mil quilos de pão de sal, 28 mexericas, 45 quilos de maça gala, 194 litros de água de coco, 122 latas de achocolatado, 51 quilos de queijo-minas, além de 6,9 mil salgadinhos de festa.

Conforme o EM publicou ontem, escritórios de vereadores da capital mineira fora da Casa Legislativa também estão na linha de corte da Câmara. Alvo de denúncias em série, o recurso destinado à manutenção de gabinetes nos bairros deve ser cortado em razão da dificuldade de licitar esse item. Atualmente, 10 dos 41 vereadores mantêm escritórios parlamentares junto às suas bases eleitorais. Ano passado, gastos com a manutenção dessa estrutura somaram R$ 183,5 mil.

Gasto no gabinete

Confira alguns itens e alimentos consumidos nos gabinetes dos vereadores de BH em 2014

Copo descartável - 24.402 unidades
Caneta - 10.462
Pasta de plástico - 3.691 unidades
Lápis - 3.605
Aluguel de veículos - 441 pedidos
Elástico amarelo - 7 quilos
Barbante - 5 rolos
Achocolatado - 122 latas
Água - 1.221 litros
Água de coco - 194 litros
Bolos - 506 unidades
Bombom de morango - 100 unidades
Bombocado - 8 quilos
Broinha de canjica - 12 quilos
Biscoito - 32 pacotes
Brigadeiro - 200 unidades
Coxinha - 200 unidades
Croissant - 13 quilos
Frango - 1 quilo
Maçã gala - 45 quilos
Mexerica - 28 unidades
Pão com presunto e mussarela - 2.467 unidades
Pão de sal - 1.002 quilos
Queijo-minas - 51 quilos
Suco - 1.910 litros
Salgadinho de festa - 6.950 unidades

Fonte: Câmara Municipal de BH.