A Polícia Civil desbaratou um esquema milionário de lavagem de dinheiro para financiamento de campanhas eleitorais no Distrito Federal. Na primeira etapa, realizada ontem, dois políticos do Partido da Pátria Livre (PPL) são suspeitos de serem beneficiados pelas fraudes, que podem chegar a R$ 100 milhões. A deputada distrital Telma Rufino (PPL) e o ex-diretor do Transporte Urbano do DF (DFTrans) Marco Antônio Campanella são alvo da Operação Trick, que promete revelar a participação de outros políticos em futuras etapas da investigação. A Procuradoria Geral de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também participa da operação.
Para legalizar o dinheiro, os envolvidos faziam compras em mercados reais — responsáveis pelas emissões de notas frias. “Depois que o dinheiro do empréstimo caía em conta, os suspeitos faziam compras em estabelecimentos para os valores saírem limpos”, detalhou o delegado. Sérgio Eneas Silva, gerente de uma agência bancária em Taguatinga, é apontado pela Corf como um dos chefes do grupo. Ele facilitava a operação dentro do BB. Também é dono do bar e restaurante All Dublin, localizado em Águas Claras. No mesmo endereço estavam registradas duas empresas fantasmas.
O grupo também era chefiado por outros dois suspeitos. Rogério Gomes Amador e Edigard Eneas da Silva seriam mentores das criações das empresas fantasmas. Edigard foi nomeado, em 11 de abril de 2014, subsecretário de Qualificação e Capacitação Profissional da Secretaria de Estado de Trabalho do DF. Outro funcionário do Banco do Brasil, identificado como Gustavo Moura, é investigado como facilitador da organização criminosa. A Corf apura o quanto cada servidor recebia para articular as movimentações. “Outras pessoas também são investigadas por supostamente receberem dinheiro das empresas fantasmas após o empréstimo. Essa é a primeira fase da operação e será investigado o valor exato que cada beneficiário pode ter recebido”, diz Jefferson.
32 mandados
Na madrugada de ontem, policiais cumpriram 32 mandados de conduções coercitivas e 36 de busca e apreensão nas residências dos envolvidos e nos endereços das empresas reais. Investigadores estiveram em Águas Claras, Sobradinho, Vicente Pires, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Gama, Riacho Fundo e no Setor de Hotéis e Turismo Norte (SHTN). A operação também contou com o apoio da Polícia Civil de Goiás, uma vez que houve cumprimento de buscas em regiões do Entorno do DF. Entre os objetos apreendidos, estão documentos, computadores, carros, dinheiro e uma bicicleta.
Campanella e os demais suspeitos foram conduzidos ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) para prestar depoimento. Por ser parlamentar, Telma Rufino tem foro especial e pode agendar dia e local para ser ouvida. A residência onde ela mora, porém, foi alvo de mandado de busca e apreensão. Neste caso, quem conduz a investigação é a Procuradoria Geral de Justiça do MPDFT.
Para a candidatura, Telma Rufino recebeu R$ 592.184,44 em doações. Desse montante, R$ 65.364,44 foi dinheiro da própria deputada. Os dados estão na prestação de contas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor confronta a declaração anual do Imposto de Renda feita pela distrital em 2014 — uma vez que os rendimentos tributáveis dela, naquele ano, alcançaram R$ 17.567,76, ou seja, Telma gastou com a campanha quase quatro vezes mais do que recebeu em 2013. O documento foi publicado ontem no Diário da Câmara Legislativa.
Ela também teve como um dos maiores financiadores de campanha José Tatico, dono do Supermercado Tatico. Do total doado por fornecedores para a candidatura da parlamentar, R$ 360 mil foram dados pelo empresário. Já Campanella, que é presidente regional do PPL, ofereceu R$ 520 para a atual distrital. Tatico emprestou o nome e a imagem para que Telma pedisse votos em cidades da capital e do Entorno.
Telma Rufino esclarece que o valor publicado pelo Diário da Câmara Legislativa refere-se aos rendimentos recebidos enquanto funcionária da Gerência de Arniqueira, nos primeiros meses de 2014. No ano anterior, a parlamentar recebeu mais de R$ 63 mil em rendimentos tributáveis, dos quais utilizou parcela considerável para investimentos em sua campanha. Telma Rufino também fez empréstimos junto a instituições financeiras, entre eles o Banco de Brasília, usados para custear seus gastos no pleito eleitoral de 2014.
Quebra de sigilo
A Justiça autorizou a quebra do sigilo fiscal e bancário dos investigados, com exceção de Telma. A polícia investiga se o dinheiro gerado pela fraude teria sido doado para campanha de candidatura da distrital e de Campanella, que concorreu ao último pleito para deputado federal. Essa é a primeira fase da operação e, por enquanto, não envolve prisão. A Polícia Civil investiga a ação fraudulenta há 1 ano e 7 meses. Novas fases devem ser desencadeadas após os depoimentos e a coleta de dados.