A votação da MP 665, que altera regras de acesso ao seguro-desemprego e do abono salarial, estava prevista para ser votada nessa terça-feira em plenário, mas a análise da proposta foi adiada pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para hoje a partir do meio-dia.
O recado da insatisfação do PMDB foi dado pelo líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), no final da noite dessa terça-feira, logo após a Câmara ter imposto uma derrota à presidente Dilma Rousseff. A Casa aprovou, numa articulação surpresa de partidos da base com a oposição, a Proposta de Emenda à Constituição que eleva de 70 para 75 anos a idade para a aposentadoria compulsória de ministros de tribunais superiores e do Tribunal de Contas da União (TCU). Na prática, a medida retira a certeza de que Dilma indicaria pelo menos cinco ministros do Supremo Tribunal Federal até o fim do mandato dela, em 2018.
Picciani disse que a MP 665 não será mais analisada. "Não votaremos a MP 665 amanhã (hoje), não mais.
Em função do impasse, o vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, reúne-se na manhã desta quarta-feira com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e os líderes de partidos aliados na Câmara para tentar conter a ameaça liderada pelo PMDB de não apoiar as medidas provisórias que fazem parte do ajuste fiscal. O encontro organizado por Temer ocorre no Palácio do Jaburu, sua residência oficial.
Preocupação
Causou preocupação no governo na noite dessa terça-feira a ira provocada pela fala de Lula em parlamentares da base aliada, particularmente no líder do PMDB na Câmara. O Palácio do Planalto tem pressa e o atraso na votação das medidas do ajuste, que o governo esperava ver encerradas hoje, agora estão ameaçadas.
Embora o ex-presidente Lula falasse principalmente sobre a terceirização, o PMDB não quer pagar a conta do ajuste fiscal sozinho, enquanto o PT aparece como bonzinho, defensor dos trabalhadores. O temor é que esse discurso, segundo um interlocutor do Planalto, além de tirar o apoio do PMDB, possa contaminar os demais partidos da base aliada, que poderão recuar no apoio às MPs do ajuste ou votar contra elas.
Sem o PMDB, não há como aprovar a proposta. A avaliação é que Lula poderia ter ido à TV, mas não jogar lenha na fogueira, atrapalhando a já difícil aprovação do ajuste fiscal. Além disso, o entendimento é que ele errou no tom de sua fala. Já nessa noite, as conversas foram reiniciadas e Michel Temer terá mais trabalho para conseguir manter a base unida pelo ajuste, além de convencer o próprio PMDB a votar a MP 665, e a 664, outra do ajuste fiscal..