Brasília, 07 - Após um longo e tenso embate para o governo conseguir fazer avançar o ajuste fiscal - cujo primeiro passo foi a aprovação nesta quinta-feira, 7, da medida provisória 665, que quase foi abandonada em plenário pelos peemedebistas -, PT e PMDB parecem ter afinado o discurso sobre a governabilidade da presidente Dilma Rousseff. "Acho que (a votação) vai servir de ensinamento de como deve funcionar um governo de coalizão", considerou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).
O peemedebista reforçou a mensagem de que o apoio do PMDB ao ajuste foi "um voto de confiança" ao governo e cobrou mais espaço na formulação de medidas. "A votação expôs as divergências na base aliada e a necessidade, que nós já defendemos há tanto tempo, do processo decisório e político do governo não ser tão hegemônico. Ficou provado que é preciso dialogar com todas as bancadas e todos os partidos", disse.
Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a aprovação da medida alterando o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial, sacramentada nesta tarde com a rejeição de emendas que tentavam mudar o texto avalizado ontem, mostrou união na base governista. "O governo da presidente Dilma volta a ter governabilidade aqui na Câmara, que nós precisamos aperfeiçoar daqui para a frente. Isso é bom para o País", disse.
Guimarães observou que a aprovação foi uma "pacificação" da base e seria repetida na apreciação da MP 664, que será votada na próxima semana. A nova medida muda as regras de concessão da pensão por morte. "Foi uma grande vitória em que pacificamos o ambiente político, ainda que com o acirramento de ontem", disse o líder governista. "A sintonia fina entre o PT e o PMDB dá esse resultado", ressaltou, em referência à MP 665.
Picciani avaliou que seu partido tem atuado pela governabilidade com "independência" no Parlamento. "O PMDB sempre pregou a independência do Legislativo, com harmonia, mas sempre defendeu a governabilidade. Sempre dissemos que não tergiversaríamos na defesa da governabilidade do País", afirmou.
Muro
Picciani, contudo, alfinetou o PT ao dizer que a ameaça de não votar o ajuste fiscal após o pronunciamento do ex-presidente Lula contra a terceirização - uma bandeira defendida pelo PMDB - foi para tirar do "muro" a bancada petista. O PMDB queria dividir o ônus do "remédio amargo" representado pelo ajuste com o PT.
"O PT não foi enquadrado pelo PMDB, nós apenas fizemos um chamamento para que eles (petistas) assumissem a responsabilidade. É fundamental o PT ter assumido essa responsabilidade", disse Picciani. "A descida do PT do muro nos ajudou a vencer essa votação (da MP 665)", ironizou.