Brasília – Em emocionado depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, a ativista Lilian Tintori criticou duramente o regime chefiado pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro – herdeiro político de Hugo Chávez –, e pediu ao Brasil que “se levante e alce sua voz para ajudar cada venezuelano a levantar as bandeiras da democracia e dos direitos humanos”. Mulher do líder de oposição Leopoldo López, ela estava acompanhada de Mitzy Capriles, esposa do ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, e de Rosa Orozco, que teve uma filha assassinada durante manifestação contra o governo em Caracas. Leopoldo López está preso há mais de um ano. Também está na cadeia o ex-prefeito de Caracas. “O mundo inteiro sabe que na Venezuela não se vive em uma democracia. Mais de 80% dos venezuelanos pedem mudança. Necessitamos de ajuda dos países da região”, disse Lilian na abertura da audiência pública promovida pela comissão, que contou com a presença de diversos parlamentares e terminou com críticas de deputados e senadores ao fato de o governo da presidente Dilma Rousseff não ter aceitado receber as venezuelanas.
“A omissão do governo brasileiro em relação à escalada do autoritarismo na Venezuela é vergonhosa. Nos atinge a todos, como cidadãos que somos e democratas que devemos permanentemente ser”, disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG), ao chegar à reunião.
Apenas no final da reunião da comissão foram informados pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o único petista presente no encontro, de que as duas seriam recebidas pelo chefe do Departamento de América do Sul, Baena Soares. Ele também lembrou que Dilma criticou a prisão de líderes da oposição na Venezuela durante a sua participação na Cúpula das Américas, em abril.
Violência e mortes Segundo Lilian, ocorreram 25 mil mortes por violência na Venezuela no ano passado. Existem grandes filas para comprar alimentos, há dificuldade para se obter remédios e a inflação já alcança 74%. Além disso, observou, há 89 presos políticos no país vizinho. Por sua vez, Mitzy contou que seu marido foi “simplesmente arrancado de seu posto de trabalho”, na Prefeitura de Caracas, e está preso há três meses.
No depoimento mais contundente, Rosa Orozco contou que sua filha de 23 anos foi baleada “à queima-roupa” por um integrante da Guarda Nacional, em 19 de fevereiro de 2014, por participar de uma manifestação com cartaz contra o governo, e morreu dois dias depois. Ela mostrou aos parlamentares fotos da filha, Geraldine Moreno, baleada no rosto. “Não podemos permitir que essas coisas sigam acontecendo. Temos uma milícia de coletivos, que são pessoas civis armadas, que vivem matando os que opinam diferente do governo. É uma violação à minha alma, a minha vida se foi com minha filha”, disse Rosa.
Unasul
Ao abrir a reunião, Aloysio Nunes disse ter ouvido de Mauro Vieira que uma comissão de representantes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) tem contribuído para reduzir as tensões na Venezuela. Ele lamentou, porém, que as violações aos direitos humanos tenham se multiplicado depois das eleições presidenciais e que o governo brasileiro não tenha até o momento tomado uma atitude mais enérgica para reagir a esse fato.
“O Brasil quer ter peso cada vez maior nas decisões internacionais. Temos pretensão de ocupar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, além do desejo de ser peça-chave em negociações sobre o comércio internacional. Por que o Brasil não atua com seu peso próprio pelo menos nas questões fundamentais como direitos humanos e democracia? Um país do nosso tamanho não pode se omitir nessa questão”, afirmou Aloysio.
Junto a ele na mesa, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) relatou ter percebido em recente encontro sobre direitos humanos realizado no Peru uma “enorme cobrança de posicionamento mais claro do Brasil” em relação ao tema. A presença de parlamentares da base de apoio ao governo na reunião foi considerada pelo senador um sinal de que “começa a haver constrangimento” em relação à “cômoda omissão” do governo brasileiro em relação à situação da Venezuela. Na terça-feira, a Casa aprovou um voto de censura ao governo de Maduro por causa do que classificaram como prisões políticas arbitrárias.
"O mundo inteiro sabe que na Venezuela não se vive em uma democracia. Mais de 80% dos venezuelanos pedem mudança. Necessitamos de ajuda dos países da região”
Lilian Tintori,
ativista venezuelana e mulher
do líder de oposição Leopoldo López, preso há um ano
“A omissão do governo brasileiro em relação à escalada do autoritarismo na Venezuela é vergonhosa. Nos atinge a todos, como cidadãos que somos e democratas que devemos permanentemente ser”
Aécio Neves (PSDB-MG),
senador