“Nunca antes na história deste país” tantas frases de efeito foram ditas durante uma crise política. A troca de farpas entre oposição e situação tem tornado a língua de nossas raposas políticas cada vez mais afiadas. No centro do embate, o governo Dilma Rousseff e seu partido, o PT, têm sido alvo de críticas ácidas, dirigidas até mesmo por aliados, num verdadeiro duelo verbal que faz lembrar aqueles desafios dos repentistas do Nordeste do país.
No rastro da mais acirrada disputa presidencial da Nova República, o tom dos ataques tem subido e alguns personagens da história política têm se destacado, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido por suas frases de efeito, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que, na oposição, se tornou o crítico mais duro dos petistas e do governo de Dilma. Até mesmo o polido ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que comparou a presidente a um “punguista que mete a mão no bolso da vítima, rouba e sai gritando pega ladrão!”, depois de ser apontado como um dos responsáveis pelo desvio de recursos na Petrobras.
No segundo mandato do governo Dilma, o jogo político tem produzido outros personagens de destaque, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, preterido pela presidente, lhe impôs a primeira derrota ao assumir o comando do Parlamento. Os ataques de Cunha, de partido da base aliada, têm sido constantes e recheados de ironia. “O PT não ganha uma votação. Só quando a gente fica com pena na última hora” , foi uma das estocadas de Cunha ao comentar, em março, o agravamento da crise política no Planalto.
O mesmo tom foi assumido também pelo senador Renan Calheiros (AL), outro peemedebista que desafia o governo petista. Na semana passada, ele comemorou a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Bengala – que altera a aposentadoria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de 70 para 75 anos – impedindo novas indicações de Dilma para a Corte, afirmando que a perda de poder da presidente “é boa para o país”. E foi mais longe ao falar sobre a indicação do jurista Luiz Edson Fachi para vaga no STF: “Se tiver a digital do PT não passa no Senado”.
TALENTOS Engana-se, no entanto, quem pensa que a política não é campo de atuação para representantes do Judiciário. Pelo contrário, desde o julgamento do mensalão, os ministros do Supremo têm estado no olho do furacão e revelado talentos natos para as disputas no campo político. O ministro aposentado Joaquim Barbosa – ex-presidente do STF, notabilizado pela relatoria da ação do mensalão –, chegou a ser cogitado para se lançar na política. Mesmo afastado da Corte, Barbosa não deixou de estocar o governo, ao exigir de Dilma a demissão imediata do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), depois que ele recebeu em seu gabinete advogados dos réus da Operação Lava-Jato, que apura fraudes contra os cofres da Petrobras.
E o campo de línguas ferinas no tribunal é fértil. Sempre polêmico, o ministro Gilmar Mendes não pensa duas vezes para dar sua opinião, até mesmo para colocar sob suspeição o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua pupila Dilma Rousseff. “O povo brasileiro tem razão em desconfiar que Lula e Dilma fraudaram as urnas”, afirmou em 5 de novembro, durante sessão do TSE para julgamento de representação do PSDB, ao comentar fala de Dilma de que “na eleição a gente faz o diabo”.