Brasília e São Paulo - Incentivados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, setores do PT se movimentam para abreviar o mandato da atual direção partidária, que vai até 2017, e substituir a cúpula ainda neste ano. O palco para a manobra seria o 5º Congresso Nacional do PT, marcado para junho, em Salvador. Os objetivos são repactuar o partido, no momento em que a legenda enfrenta sua pior crise, e reconstruir a relação com o governo da presidente Dilma Rousseff.
Entre os nomes citados estão os dos ex-titulares da Secretaria-Geral da Presidência da República Luiz Dulci e Gilberto Carvalho. Também são lembrados o atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, e o titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, além do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Todos já foram sondados para dirigir o PT, mas declinaram.
Em reunião com assessores do Instituto Lula, semanas atrás, o ex-presidente pediu sugestões de ex-governadores e ex-prefeitos de grandes cidades, ex-parlamentares, dirigentes sindicais, líderes de movimentos populares e intelectuais petistas. "Quero que cada um me traga uma lista com dez nomes até amanhã", pediu Lula, segundo relatos. O ex-presidente, no entanto, não cobrou a relação dos auxiliares.
Coro
Aos poucos, a tese vem sendo incorporada por outras forças petistas. Na quinta-feira, 14, a Democracia Socialista - grupo alojado na segunda maior força interna, a corrente Mensagem ao Partido - publicou o texto "Vencer a Crise do PT", no qual propõe que o congresso petista determine a substituição da atual direção em outubro. O texto ganhou simpatia de setores do Movimento PT, a terceira maior força interna. A Mensagem, da qual fazem parte ministros importantes de Dilma, tentou articular uma manobra para que o próprio Lula assumisse o comando do PT. O movimento foi abortado pelo ex-presidente.
Na sexta-feira, 15, foi a vez do ex-ministro José Dirceu, que cumpre prisão domiciliar pela condenação no julgamento do mensalão, publicar uma carta na qual também pede, em tom alarmista, uma nova direção partidária. "Tudo indica que o PT chegou ao limite na relação com o governo, o governo do próprio PT. E que chegou a hora de uma redefinição e repactuação partidária. (...) O período atual é o mais grave que o partido enfrentou. (...) São necessários um novo acordo partidário e uma nova direção para esse período histórico. Antes que seja tarde", diz o texto.
Além da repactuação interna, os defensores da troca de comando argumentam que a atual direção não tem força para se contrapor ao poderio das bancadas no Congresso. Amparadas nas máquinas dos mandatos, elas se tornaram estruturas de poder paralelas, independentes da cúpula partidária, e cada vez mais desassociadas do governo em função das medidas de ajuste fiscal que vão na contramão da história do partido e desgastam os parlamentares em suas bases.
Indagados sobre o afastamento entre partido e governo, petistas afirmam que não há como desatrelar uma coisa da outra. Ao mesmo tempo, ressaltam que internamente é cada vez mais presente o seguinte raciocínio: "Não vamos ser linha auxiliar da oposição, mas também não vamos ser beija-mão da situação".
Tal iniciativa foi colocada em prática na quarta-feira pelo próprio Lula, ao criticar Dilma por ter enviado o pacote do ajuste fiscal sem ouvir setores atingidos pelas medidas. A interlocutores, Lula insiste na crítica de que falta a Dilma apresentar um discurso dizendo o que quer no segundo mandato, dando uma "dimensão de futuro". Um documento previsto para o final do 5º Congresso do PT deve reforçar as perspectivas "pós-ajuste fiscal".
Embora conte com apoio de forças importantes, a proposta de abreviar o mandato da atual direção enfrenta obstáculos. O primeiro é a falta de disposição do próprio Lula em executar a manobra. Para muitos, só ele poderia fazer isso, já que a proposta exige atropelar estatuto e resoluções do PT, como a que estipula cotas nas instâncias de direção.
Além disso, parte da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil é contrária à proposta. "Lula participou do processo de escolha da Executiva Nacional. Eu mesmo levei os nomes para ele", disse Francisco Rocha, coordenador da CNB.