Brasília, 21 - Apesar de todo o sufoco em razão da necessidade de adiamento da votação das medidas provisórias 665 e 664, no Senado, que propõem alterações nas regras de concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas, o governo está convencido de que conseguirá aprovar os textos antes deles perderem a vigência em 1º de junho. "É sempre assim, é sempre assim", disse a presidente Dilma Rousseff, após o almoço oferecido ao presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, no Itamaraty.
Demonstrando total tranquilidade com a aprovação das MPs, a presidente Dilma insistiu que essas tensões sempre acontecem, que as votações sempre atrasam, mas ao final, tudo acaba se resolvendo. "Calma, calma, vai dar certo", reiterou a presidente, que já tinha declarado, pouco antes, em entrevista, que acreditava nas negociações para a aprovação das propostas.
O governo foi surpreendido com a atitude do senador Lindberg Faria (PT-RJ), que acabou atrapalhando a votação da MP no plenário do Senado, ontem, repetindo a "ação desastrosa" do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que fez o governo perder a votação do fator previdência na Câmara, criando mais um problema para o Planalto, na busca pelo ajuste fiscal.
Além de irritar o Planalto, a atitude de Lindberg desagradou profundamente também o vice-presidente Michel Temer, os peemedebistas e os senadores aliados da base. Na reunião desta quinta-feira com Temer, a queixa foi generalizada. "Todos contra o PT", disse um assessor palaciano, ao narrar o clima de revolta dos líderes do Senado, se queixando contra o PT e a demora do Planalto em reagir contra a atitude dos petistas e enquadrá-los. "Ele tem de ser enquadrado", comentou outra fonte, ao salientar que "os partidos não aceitarão, mais uma vez, o PT posar de bonzinho e o PMDB pagar a conta".
No final do dia, os aliados já haviam sido informados que o Planalto ia enquadrar Lindberg e que o PT vai votar a favor das medidas provisórias. A expectativa é que a MP 665 seja aprovada já na terça-feira, 26, para, em seguida, serem votadas as demais.
No caso da Câmara, o governo acredita que as negociações estejam muito bem encaminhadas, apesar do atraso da votação do projeto de lei das desonerações. O PT não estava gostando da ideia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que incluiu no texto que estava sendo votado a possibilidade de realização de PPPs - parcerias público privada pelo Legislativo, que permitiria a construção de um shopping, nas dependências do Congresso, que está sendo chamado de "Parlashopping". Quando o PT começou a avisar que ia votar contra a proposta e, inclusive, encaminhou contra a votação do texto, Cunha procurou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e cobrou: "Eu aprovei aqui tudo o que o governo queria. Vocês não vão me derrotar, não é?"
Diante disso, Guimarães encaminhou, como líder do governo, a favor da proposta que viabilizará a construção do "Parlashopping" e, apesar do líder do PT, Sibá Machado (PT-AC), encaminhar contra, os petistas ajudaram a aprovar a proposta, e Cunha viajou feliz para o exterior.
Com isso, o governo espera maior flexibilidade de Cunha ao projeto de desonerações, que está aguardando o parecer do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), que não desfigure as propostas de desoneração que fazem parte do ajuste.