A decisão de aumentar o tributo cobrado das instituições financeiras foi tomada após diversos parlamentares criticarem o fato de o governo penalizar os trabalhadores com alta de impostos e deixar o sistema financeiro de fora. O petista Lindbergh Farias (RJ) chegou a pedir a cabeça do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas a presidente da República, Dilma Rousseff, defendeu o subordinado durante encontro com o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, no Palácio do Itamaraty. “Joaquim Levy é da minha confiança, fica no governo”, disse.
A tesourada que será anunciada na tarde desta sexta-feira será concentrada nos R$ 312,32 bilhões de despesas discricionárias (não obrigatórias) previstas na Lei Orçamentária Anual de 2015. Desse montante, R$ 65,61 bilhões correspondem ao PAC, que terá mais de um terço dos recursos congelados.
Entre os ministérios mais afetados, a Defesa terá de adiar a compra de equipamentos militares para as Forças Armadas. Além da pasta, as secretarias vinculadas à Presidência da República, como a de Assuntos Estratégicos, de Igualdade Racial, de Micro e Pequenas Empresas e da Pesca receberão poucos recursos.
O contribuinte, entretanto, deve preparar o bolso para uma nova rodada de aumento de impostos porque o governo não conseguirá equilibrar as contas diante da frustração da arrecadação de receitas e da redução da economia prevista com as MPs do ajuste que tramitam no Congresso. Nas últimas reuniões com o vice-presidente, Michel Temer, Levy avisou que estuda aumentar um conjunto de tributos por decreto, promovendo o fim de regimes especiais para PIS-Cofins e uma nova elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Rodrigues Malaquias, disse nessa quinta-feira (21), durante a divulgação dos dados de arrecadação de abril, que “haverá sim a necessidade de novas medidas para complementar o ajuste fiscal”. “São medidas de natureza tributária e podem ser de reversão de desonerações e de redução de incentivos fiscais”, completou.
O especialista em administração pública José Matias-Pereira, professor da Universidade de Brasília (UnB) criticou essa medida. “Estamos assistindo a uma presidente acuada, perplexa, que não sabe para onde ir. Aumentar tributo mostra o nível de mediocridade do governo”, disse. “Essa é a alternativa mais fácil e menos criativa para uma crise fiscal”, pontuou. Para Matias, o tamanho da tesourada revelará quem tem mais força no governo. “Mas se o corte for muito baixo, o governo precisará mudar a meta fiscal”, alertou.
Na avaliação do secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, os investimentos e os benefícios sociais serão os mais afetados pelo contingenciamento. “O Orçamento é engessado. O governo só tem espaço para cortar 10% do total, que são as despesas discricionárias, onde estão incluídos o PAC e a maioria dos benefícios sociais”, avisou.
ABONO Em meio às dificuldades para aprovar as medidas provisórias que compõem o ajuste fiscal, o governo decidiu que vetará o trecho da proposta que altera as regras para concessão de abono salarial (Pis/Pasep). Segundo o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), o acordo foi firmado em reunião com o vice-presidente da República, Michel Temer, no Palácio do Jaburu. Os ministros Joaquim Levy, Nelson Barbosa, Mercadante, além dos titulares das pastas do Trabalho, Manoel Dias, e da Previdência Social, Carlos Gabas, participaram do encontro. Com isso, o benefício permanecerá como é hoje. Pela proposta inicial enviada ao Congresso, o governo definia um prazo de seis meses de trabalho formal para que o trabalhador tivesse acesso ao abono anual de um salário mínimo. O relator do texto, senador Paulo Rocha (PT-PA), reduziu o tempo para três meses..