Polícia investiga contratos suspeitos feitos por empresário que trabalhou na campanha de Pimentel

Polícia investiga contratos suspeitos feitos por Benedito Rodrigues de Oliveira com órgãos federais

Eduardo Militão João Valadares

Agentes da Polícia Federal cumpriram 90 mandados de busca e apreensão em 60 empresas e 30 casas dos estados de Minas, Rio Grande do Sul e Goiás. No avião apreendido em 2014 estavam R$ 113 mil em espécie - Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo


Brasília
– Uma Operação da Polícia Federal contra uma organização suspeita de superfaturar parte de contratos de R$ 500 milhões no governo federal colocou 400 homens nas ruas de quatro estados para cumprir 90 mandados de busca e apreensão e fazer cinco prisões em flagrante. Um dos detidos ontem foi Benedito Rodrigues Oliveira Neto, empresário ligado ao PT que já alugou uma casa para hospedar o comitê de campanha da presidente Dilma Rousseff. Um dos mandados de busca e apreensão foi no endereço do ex-deputado Virgílio Guimarães (PT-MG).


A investigação começou a partir da apreensão de R$ 113 mil em dinheiro vivo em um avião turboélice em outubro passado em Brasília, no qual estavam Bené e o ex-assessor do Ministério das Cidades Marcier Trombiere. Ambos foram presos ontem, assim como Victor Nicolato e Pedro Medeiros, porque, segundo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Superintendência da PF em Brasília, Dennis Cali, os agentes detectaram o crime de associação criminosa. Foram apreendidos documentos que mostravam que eles trocavam mensagens entre si e continuaram a praticar crimes mesmo depois de outubro, quando da apreensão do avião.


O procurador da República Ivan Cláudio Marx disse que todos os mandados de busca “foram fundamentados em razão de as pessoas terem vínculos com a organização criminosa”. O juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Ricardo Leite, determinou ainda a apreensão do avião, avaliado em R$ 2 milhões. Também foram apreendidos R$ 98 mil, US$ 5 mil e 10 carros de luxo.

Bené é ligado ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, para quem trabalhou durante a campanha eleitoral no ano passado. Um dos mandados de busca e apreensão foi na antiga residência da primeira-dama, Carolina Oliveira, em Brasília.

Sua empresa de assessoria de imprensa, a Oli Comunicação funcionava até o início deste ano em sala na Asa Norte, imóvel alugado por Bené, e que não tinha funcionários. A empresa também prestou serviços ao PT. Mas, segundo o delegado Dennis Cali, Pimentel não é investigado até o momento.


Ele disse que as cerca de 30 empresas do esquema estão registradas sempre no mesmo endereço ou são fantasmas – quase todas ligadas a Bené. A movimentação delas foi de pelo menos R$ 500 milhões desde 2005, para ministérios como Saúde, Cidades, Educação e Desenvolvimento Social. “Em pouco tempo, cinco ou seis anos, o faturamento cresceu de forma excepcional”, disse Cali. Relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) encontraram sobrepreço ou não prestação completa dos serviços nesses contratos. A Gráfica Brasil e a Due Promoções e Eventos são algumas das firmas de Bené arroladas pela PF. O objetivo da ação de ontem é também descobrir para onde o dinheiro continuou a correr depois de chegarem às empresas, algumas consideradas de fachada.

Surpresa

Em nota, o governador Pimentel disse que o governo de Minas não é objeto de investigação. O advogado da primeira-dama, Pierpaolo Cruz Bottini, disse que Carolina Oliveira “viu com surpresa a operação de busca e apreensão”. “Carolina acredita que a própria investigação vai servir para o esclarecimento de quaisquer dúvidas”, disse o advogado. A defesa de Bené e de Marcier só vão se pronunciar quando tiverem acesso aos autos da investigação. A reportagem não localizou Victor Nicolato e Pedro Medeiros.

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