Brasília – Os tempos difíceis vividos pelo PT, pressionado por sucessivos escândalos de corrupção e tendo que lidar com uma agenda macroeconômica que é a antítese do pensamento petista, têm rebaixado figuras proeminentes da legenda a um plano secundário no debate parlamentar. Eles mantêm a capacidade de formulação, mas têm sido pouco ouvidos no momento de tomadas de decisões estratégicas.
O ostracismo atingiu nomes como os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), Alessandro Molon (PT-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP). O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) deixou o cargo de vice-líder do governo após apoiar a aprovação de nova regra para o fator previdenciário.
No Senado, o fenômeno atinge os senadores Paulo Paim (PT-RS), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Walter Pinheiro (PT-BA). Sem chances políticas futuras, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) deixou o PT e vai se filiar ao PSB.
Segundo apurou o Estado de Minas, boa parte desses parlamentares – senão a totalidade – vive um processo de desencantamento com os rumos da legenda e do próprio governo. No Senado, especialmente, é total. “Nem mesmo os senadores que têm votado com o governo agem dessa forma por convicção. É mais um sentimento de que precisamos ajudar o governo do que uma convicção de que as medidas são as alinhadas ao ideário petista”, disse um importante articulador do PT na Casa.
Na Câmara, o desencantamento também passa por briga por espaço político. Arlindo Chinaglia, por exemplo, mesmo tendo sido presidente da Casa, sempre teve postura de maior independência em relação ao Planalto. Mas, por outro lado, tensionou politicamente para galgar cargos maiores no governo. Já Molon, que relatou o Marco Civil da Internet e foi duro no embate com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na votação da reforma política, chegou a ser cogitado para a Secretaria de Comunicação do governo, mas não foi escolhido para o primeiro escalão.
“Esse isolamento é uma questão de tempo”, apostou um importante deputado do PT. “É evidente que há uma insatisfação e um descontentamento na base do partido na Câmara e com o pouco espaço dado pelo governo às nossas ideias”, completou. O mesmo petista, contudo, prometeu uma virada política do grupo, iniciando a pressão no congresso do partido, de 12 a 14 de junho, em Salvador, e culminando com gestos mais incisivos na bancada.
Movimentos sociais O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que renunciou ao cargo de vice-líder do governo por defender a convicção de que era fundamental encontrar caminhos para a derrubada do fator previdenciário, tenta se manter vivo no debate. “Vou continuar dando opiniões e expressando o que penso, mesmo não sendo mais vice-líder do governo.”
Líder do governo no Senado, o petista Delcídio Amaral (MS) disse que não há como o partido abdicar de quadros importantes como esses. “É uma questão circunstancial. Mas o PT é forte e esses companheiros são fundamentais por sua história, seus relacionamentos com os movimentos sociais e com a militância petista local. Eles têm grande importância não só no Congresso como nos estados”, disse Delcídio.
Edinho Silva, titular da Secretaria de Comunicação Social, disse entender que alguns parlamentares estejam em desacordo com a agenda política do governo. “Mas contamos com eles porque são fundamentais para o nosso projeto político”, acredita o ministro.