Brasília – O PT realiza o 5º Congresso Nacional entre os dias 11 e 13, em um momento de profunda tensão nas relações com o governo da presidente Dilma Rousseff. Críticas de petistas à política econômica, ameaças de vaias e ataques ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, uma relação fria entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a enxurrada de denúncias de corrupção que afundam a legenda, agora com o escândalo da Petrobras, são ingredientes de um encontro que muitos consideram desnecessário neste momento.
Até nisso governo e partido mostram descompasso. Para alguns auxiliares diretos da presidente, o PT erra ao marcar um Congresso para este momento. Para eles, os temas que afligem a legenda e o Planalto poderiam ser discutidos em uma executiva do partido. “Mas foram os integrantes da executiva que insistiram na realização do Congresso”, lamentou um petista próximo à presidente.
Ex-chefe da Casa Civil e uma das principais defensoras da presidente Dilma no Congresso, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) acha que os parlamentares petistas já deram a sua cota de sacrifício ao aprovar as medidas de ajuste fiscal encaminhadas pelo ministro Joaquim Levy. “É natural que tenhamos divergências. Governo é uma coisa, e partido é outra coisa. O partido sempre tem a obrigação de estar à frente dos governos, por ser mais dinâmico.”
Gleisi, contudo, disse que, apesar das discordâncias, a legenda não pode deixar que a essência do ajuste fiscal seja alterada, pois, segundo ela, a arrumação da casa será essencial para o governo Dilma retomar a agenda do crescimento e das conquistas sociais.
Outro integrante da Mensagem, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirma que dois pontos são essenciais neste momento. O primeiro seria a clareza de que é preciso aumentar o volume destinado aos investimentos. O segundo, conter a taxa de juros. Na quarta-feira, exatamente uma semana antes do congresso petista, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros (Selic) para 13,75% ao ano, o maior índice desde janeiro de 2009.
Mesmo não sendo unanimidade sequer no governo, a tendência é que o ministro Joaquim Levy sofra pressão apenas das tendências mais à esquerda do partido. “Eles podem até pedir a cabeça do ministro, mas de que adianta? Quem demite e nomeia ministros é a presidente, não o PT”, ressaltou Gleisi.
Ainda não está certo em que dia Dilma participará do Congresso. Nesta semana, ela viaja à Bélgica, mas deve retornar ao Brasil no dia 11 ou 12. Integrantes do governo e do partido esperam que, ao menos, a presidente tenha capacidade de falar de futuro. “Dilma terá de mostrar que, sim, vivemos um momento muito difícil, mas que teremos capacidade de superar. É olhar para frente”, cobrou uma liderança petista no Legislativo.
Para Paulo Teixeira, o congresso também será um momento para depurar o próprio PT. Diferentemente do que muitos pensam, Teixeira acha que não é apenas o governo que está inerte. O partido também. “O PT precisa retomar a sua capacidade de formulação, rever a nossa política de alianças.
O secretário de organização do PT, Florisvaldo de Souza, defende a realização do Congresso. “Se não tiver embates e aprofundamento dos temas necessários ao partido e ao país, não é um congresso do PT”, lembrou.
ARESTAS
O que está em jogo na reunião
O grupo
O partido precisa fazer uma autocrítica por estar, mais uma vez, mergulhado em uma crise ética por conta do escândalo da Petrobras. A cada semana, praticamente, aparece nova denúncia contra a legenda
Lula e Dilma
Criador e criatura não param de se estranhar. Lula é candidatíssimo a 2018 mas, se movimentar-se demais, ofusca a presidente. E ele sabe que só terá êxito daqui a três anos se o governo dela sair-se bem.
Economia
O PT no Legislativo engoliu em seco mas acabou aceitando as medidas do ajuste fiscal. Mas o partido quer uma sinalização clara de que o arrocho será sucedido por uma política de desenvolvimento e retomada de investimentos
Relacionamento
Os petistas seguem contrariados com a presidente Dilma. E, especialmente, com os principais escudeiros dela: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que acumula a função de articulador político..