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Estado de Minas

Polícia Federal e CPI da Petrobras cercam José Dirceu

Em inquérito prestes a ser concluído, delegado diz que ex-ministro e empreiteiras não provaram que petista prestou serviços. Deputados planejam quebrar sigilo telefônico dele


postado em 09/06/2015 06:00 / atualizado em 09/06/2015 07:44

José Dirceu cumpre pena domiciliar pelo caso do mensalão: para o delegado, não há motivo, no momento, para uma prisão preventiva
José Dirceu cumpre pena domiciliar pelo caso do mensalão: para o delegado, não há motivo, no momento, para uma prisão preventiva

Brasília – O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu está novamente sob cerco. Enquanto a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras estuda aprovar requerimento para quebrar o sigilo telefônico dele, a Polícia Federal (PF) se prepara para concluir os inquéritos sobre ele e sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, alvo da Operação Lava-Jato. De posse dos dados fiscais do ex-ministro, a PF deve obter em breve os dados bancários do principal ministro do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conta o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Superintendência da corporação no Paraná, Igor Romário de Paula. Na CPI dos Correios, o sigilo fiscal de Dirceu foi quebrado e ele já teve dados telefônicos abertos na investigação sobre a parceria MSI-Corinthians.

Em entrevista ao Estado de Minas, o delegado disse que a investigação deve se encerrar no mês que vem. Dados da Receita Federal mostraram que a JD Consultoria faturou R$ 29 milhões entre 2006 e 2013, sendo R$ 10 milhões de clientes investigados na Lava-Jato. Igor de Paula é um dos líderes de uma equipe de oito delegados, seis escrivães, 18 agentes e seis peritos dedicados exclusivamente à maior investigação de corrupção da história recente no Brasil. O delegado diz que, ao menos neste momento, não há motivos para prender Dirceu, mas afirma que não existem provas de que ele tenha prestado consultoria de verdade para as empreiteiras fornecedoras da Petrobras e fala de pressão sobre a PF para prender alguns acusados, como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

No caso do ex-ministro, faltam ainda perícias contábeis, a análise de mídias apreendidas, o recebimento do sigilo bancário dele, depoimentos de pessoas como o lobista Milton Pascowith, que pagou R$ 1,4 milhão a Dirceu, e do próprio investigado. “É um inquérito que não vai demorar muito para acabar, não”, afirmou o delegado, no prédio da PF em Curitiba, no Bairro de Santa Cândida. A previsão era concluir em junho o trabalho, mas algumas informações atrasaram.

Igor Romário, no entanto, trata como boato a “prisão iminente” de Dirceu, detenção que ocorreria em uma sexta-feira. “Fiz uma piada uma vez e disse: ‘A gente podia quebrar a regra e, então, fazer uma prisão no sábado’”, disse o delegado. O advogado do ex-ministro, Roberto Podval, fez várias declarações em abril adiantando que Dirceu seria preso. Para Igor, trata-se de um “carnaval” e um “teatrinho”. “Ele faz um teatrinho em cima ali, talvez para criar uma dificuldade maior, um constrangimento maior para que essas medidas não ocorram”, avalia.

O delegado diz que, “a princípio”, não vê motivos para colocar Dirceu na cadeia, que hoje cumpre prisão domiciliar pelo caso do mensalão. Para uma detenção preventiva ser decretada, a lei diz, por exemplo, que o investigado deve praticar crimes continuamente ou ameaçar o sucesso da apuração com destruição de provas e intimidação de testemunhas. Não importa só a gravidade dos crimes.

Igor diz que PF sofreu “pressão” para pedir a prisão de determinadas pessoas, como Pascowith e o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto. “Tem gente que dizia: ‘Ficou feio: prendeu fulano, fulano e fulano e não prendeu o Vaccari. Vários operadores foram presos e ele não’. Mas as situações são diferentes.’”

Dirceu já afirmou em nota que os serviços foram prestados e que o vice-presidente da Engevix, por exemplo, confirmou a prospecção de negócios no exterior. Podval disse nessa segunda-feira (8) que não responderia às “ofensas” em respeito aos delegados da Lava-Jato.

O delegado considerou “absurda” a negativa da empreiteira OAS, que não repassou ao juiz Sérgio Moro documentos sobre os negócios com Dirceu por não ter certeza de que seriam usados para prender executivos da construtora. “A resposta da empresa só depõe contra ela mesma”. Igor diz que tradicionalmente a empreiteira de José “Léo” Pinheiro não colabora. “Outras empresas, sempre que demandadas, acataram com mais facilidade. A OAS é mais retraída na hora de atender. Dificilmente atenderam as solicitações de documentos e contratos.” A assessoria da OAS não prestou esclarecimentos à reportagem.


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