Às vésperas de congresso do PT, corrente majoritária ameniza críticas a Levy

São Paulo - Depois de críticas mais duras, inclusive feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, membros da corrente majoritária do PT amenizaram o discurso contra a política econômica comandada por Joaquim Levy neste segundo governo Dilma Rousseff.
Na semana do 5º Congresso da sigla, que acontece a partir de quinta-feira, 11, em Salvador, a Construindo um Novo Brasil (CNB) tenta diminuir a pressão sobre o titular da Fazenda, defendido publicamente pela presidente em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada na segunda, 8.

Em maio, Lula chegou a dizer publicamente que a maneira como Dilma e a equipe econômica conduziram a alteração no seguro-desemprego foi "um erro". As críticas da ala majoritária, porém, foram diminuindo nas últimas semanas.

Coordenador da CNB, Francisco Rocha da Silva divulgou, na segunda-feira, um documento endereçado aos delegados do Congresso petista em que pede "um ponto de equilíbrio" nas críticas ao governo. Rochinha disse que "qualquer partido de esquerda se sentiria incomodado com as decisões que precisaram ser tomadas", mas lembrou dos "momentos de conflito" durante o governo Lula e ressaltou que "os personagens da economia eram praticamente os mesmos" na equipe de Antônio Palocci.

"Nenhuma tendência interna do PT pode se arvorar em criticar exageradamente o ajuste fiscal porque todos nós, com raras exceções, estamos presentes no partido e no governo. Então, todos nós temos telhado de vidro e não cabe a ninguém atirar a primeira pedra", escreveu Rochinha, político considerado próximo de Lula.

As ameaças às intenções da CNB vêm de correntes de oposição - como a Mensagem ao Partido e a Democracia Socialista (DS) - e de diretórios estaduais como o do Rio Grande do Sul. Estes setores prometem não baixar o tom das críticas ao ajuste fiscal e acusam a CNB de atuar contra a mudança no partido. "A CNB não quer mudar nada", disse um dirigente da DS.

Vice-presidente nacional do PT e integrante da CNB, Gleide Andrade "discorda radicalmente" dos petistas que usarão o Congresso para criticar o governo.
"A política econômica do governo foi necessária. Ou fazíamos essas medidas ou o País ia degringolar. Não tem sentido transformar o Congresso, um momento histórico do partido, em um lugar de críticas ao governo, usar o Congresso como divã. O papel do partido que governa o País é de força auxiliar, não de força de imposição", disse a vice-presidente Gleide Andrade.

Após se reunir com Lula, na semana passada, um dirigente  disse que poupar Levy durante o Congresso não foi um pedido direto do ex-presidente. No entanto, Lula teria ressaltado que os destinos do PT e do governo Dilma estão diretamente vinculados. "Ele (Lula) ressaltou que o Levy foi chamado pela Dilma, está fazendo o que Dilma pediu. Agora a gente tem que abraçar o Levy e tentar incluir as pautas, como taxação de fortunas, 40 horas etc."

Lula, assim como outros petistas, acha que o ajuste foi mal colocado pelo governo e passou a ideia de que só a população seria penalizada. Um membro da Executiva Nacional reclamava na semana passada da "falta de perspectiva" de um cenário positivo após o ajuste. Agora, com o lançamento do pacote de concessões de infraestrutura marcado para esta terça, 9, o PT quer mudar de assunto e deixar o incômodo ajuste fiscal para trás.

Outro dirigente da CNB que até duas semanas atrás fazia críticas mais duras ao plano econômico disse à reportagem que o foco do Congresso será "olhar para frente". "Queremos discutir o que vai ser o País pós-ajuste, tem muita agenda (positiva) pela frente. A maioria do PT não entra nessa coisa do 'fora Levy', não há nada pessoal contra o Levy"..