CPI da Petrobras convoca presidente do Instituto Lula

CPI convoca o presidente da entidade para interrogá-lo sobre os repasses de R$ 3 milhões feitos por empreiteira investigada na Lava-Jato, quebra sigilo de Dirceu e poupa Cunha

Jorge Macedo - especial para o EM
A sessão da CPI foi tumultuada, com troca de farpas entre o líder do PSDB, Carlos Sampaio (E), e o deputado petista Afonso Florence (D), de barba) - Foto: Antônio Augusto/Câmara dos Deputados

Brasília – Numa sessão tumultuada, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras aprovou 140 novos requerimentos, entre eles, a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, a quebra de sigilos do ex-ministro José Dirceu e de sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, a convocação e quebra de sigilo do lobista Milton Pascowitch, além de acareações entre os principais personagens da Operação Lava-Jato.

O PT impôs sua obstrução até parte da sessão, na tentativa de retardar o andamento da votação. A oposição, alinhada com os peemedebistas, conseguiu derrubar os pedidos de retirada de itens da pauta feitos pelos petistas e os requerimentos puderam ser apreciados em bloco, de uma só vez. A ordem do dia da Câmara, que estava prevista para começar pela manhã, foi suspensa e, numa ação orquestrada, assim que os requerimentos foram aprovados na CPI, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu início às votações no plenário –  o que regimentalmente impede que a comissão vote qualquer tema  –, justamente quando parlamentares defendiam aprovar pedidos prejudicais ao peemedebista.

Os requerimentos extra-pauta não foram apreciados. O deputado Afonso Florence (PT-BA) acusou a CPI, comandada pelo PMDB, de não convocar e blindar os envolvidos nas investigações que põem sob suspeita outros partidos além do PT. Júlio Camargo, da Toyo Setal, e Jayme de Oliveira Filho, conhecido como Careca, ficaram de fora das convocações. “Estão blindando (a convocação de Jayme e Júlio) porque atinge o presidente da Casa, que suspendeu a sessão no plenário de forma muito adequada”, apontou o deputado Ivan Valente (Psol-SP), autor dos requerimentos que não foram votados. “Júlio Camargo é central nesse processo”, concordou o relator, Luiz Sérgio (PT-RJ), lamentando a forma como os requerimentos foram aprovados. Exaltados, os petistas reclamaram que a ação foi orquestrada para expor o PT no dia da abertura de seu 5º Congresso.
“Não pode transformar a CPI em tiro ao alvo ao PT”, protestou Florence.

Os tucanos, por sua vez, acusaram o PT de tentar impedir as investigações da CPI. “Bandidos do PT estão presos e eles não querem que sejam acareados?”, provocou o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP). Entre os requerimentos aprovados na CPI está uma série de acareações envolvendo Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Pedro Barusco, João Vaccari Neto, Alberto Youssef e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. “Hoje o PT tem bandidos de quinta categoria”, insistiu o tucano, um dos autores do requerimento de convocação de Paulo Okamotto, motivado pela informação de que o Instituto Lula recebeu repasse de R$ 3 milhões da empreiteira Camargo Correa, uma das acusadas na Operação Lava-Jato, que investiga esquema de propinas envolvendo contratos da Petrobras para irrigar partidos e políticos.

No balanço citado em laudo da Polícia Federal, a empreiteira classificou esses e outros três pagamentos – no valor total de R$ 1,5 milhão – feitos à Lils, empresa do ex-presidente, como “contribuições e doações” e “bônus eleitoral”. A assessoria de Lula afirma que os recursos foram destinados ao instituto por meio de doações legais e que os pagamentos feitos à Lils referem-se a quatro palestras proferidas pelo ex-presidente.

Pressão Além de evitar a convocação de personagens que poderiam implicá-lo no esquema de corrupção, Cunha obteve a aprovação de requerimentos para pressionar a família do doleiro Alberto Youssef, principal delator contra o peemedebista. Mesmo sem indícios que os envolvam no esquema, a CPI aprovou requerimentos do deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), aliado de Cunha, para convocar e quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico das duas filhas do doleiro, da sua esposa e da sua irmã.

Em sua delação premiada, Youssef afirmou que Cunha se beneficiava do esquema de corrupção na Petrobras e que, por meio de aliados, apresentou requerimento para pressionar uma das empresas a retomar o pagamento de propina. Os requerimentos contra a família de Youssef têm o efeito de provocar exposição midiática e desgaste, além de pressionar o doleiro. Também houve outra convocação que pode favorecer Cunha, do policial federal Dalmey Werlang, acusado de instalar uma escuta na cela de Youssef em Curitiba, o que poderia fragilizar as provas obtidas pela Polícia Federal.

Greve de fome

O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato começou uma greve de fome na cadeia de Modena, após a confirmação de sua extradição ao Brasil. Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão por envolvimento no mensalão, já havia tornado pública a intenção de fazer o protesto. Segundo uma fonte da penitenciária Sant’Anna, Pizzolato começou oficialmente sua greve de fome nessa quinta-feita (11). “Hoje ele não almoçou e deixou claro a intenção de continuar”, disse. Na semana passada, o Tribunal Administrativo Regional do Lázio não acolheu o recurso apresentado pela defesa e autorizou sua extradição. A partir de segunda-feira, o governo brasileiro já pode providenciar o retorno de Pizzolato.
Ainda cabe um último recurso.
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