Lula dá bronca por convocação

Ex-presidente questiona Temer sobre atuação do PMDB na sessão que aprovou pedido para que o instituto criado pelo petista explique doação de empreiteira e cobra articulação de aliados na CPI

Jorge Macedo - especial para o EM

 

Brasília e Salvador – O ex-presidente Lula telefonou ontem para o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e reclamou da convocação de Paulo Okamotto pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.

Em tom de cobrança, segundo a reportagem apurou, o ex-presidente quis saber o que havia acontecido para que a convocação do presidente do Instituto Lula fosse aprovada. Okamotto, braço direito de Lula na entidade, será chamado para explicar as doações de R$ 3 milhões feitas ao Instituto Lula pela empreiteira Camargo Corrêa, investigada no esquema de corrupção da Petrobras.


Temer disse que também foi surpreendido pela notícia na tarde de quinta-feira. O presidente da CPI, Hugo Motta, é do PMDB da Paraíba. O vice, no entanto, garantiu a Lula que não havia uma operação apoiada pelo PMDB contra o petista. Ele ficou de conversar com Motta e com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre o episódio para dar uma posição a Lula.
O ex-presidente aproveitou o 5º Congresso do PT, em Salvador, para dar uma bronca nos parlamentares e demais representantes da cúpula do partido. Ele reclamou da falta de articulação da bancada que permitiu a convocação de Okamotto. Segundo participantes, Lula cobrou uma atuação mais aguerrida da bancada em defesa do PT.


itamaraty Sem mencionar uma única vez o ex-presidente Lula, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) disse ontem à noite que houve “interpretação equivocada” de um memorando que sugere que documentos que possam comprometer o petista não fossem divulgados.

A revista Época solicitou cópias de telegramas de 2003 a 2010 sobre a Odebrecht. O diretor do Departamento de Comunicação e Documentação (DCD) do Itamaraty, João Pedro Costa, disse que o jornalista já havia feito reportagem sobre as relações da empreiteira com o “ex-presidente Lula em seus negócios internacionais” e recomendou que as informações não fossem repassadas, segundo documento obtido pelo jornal O Globo.


Além disso, Costa sugeriu que os telegramas, que devem ser públicos segundo a Lei de Acesso à Informação, passassem à condição de sigilosos, a fim de não serem revelados até que completassem 15 anos. Porém, ontem à noite o Itamaraty tentou minimizar o episódio, mas não explicou por que a eventual relação de uma empreiteira com um ex-presidente seria motivo para transformar um documento público em sigiloso. Reservadamente, funcionários do MRE disseram ao jornal que é preciso saber “qual a repercussão” da divulgação de “assuntos de Estado”, porque Lula era presidente à época das correspondências, escritas em um tempo em que não se sabia que a Lei de Acesso, publicada em 2012, tornaria todos os papéis públicos.


Oficialmente, o Itamaraty limitou-se a informar que a lei determina que seja feita uma análise prévia do órgão para saber se os documentos devem ser classificados como sigilosos antes de serem entregues ao público. E disse que a papelada foi liberada ao jornalista da revista Época ontem.

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